Sexta, 03 Mai 2024

O mapa político das poluidoras

 

Encerrado o prazo final para prestação de contas dos candidatos deste ano e depois de alguns pepinos registrados no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), agora sim a coluna pode mostrar aos capixabas como ficou a nova configuração política que favorece as poluidoras no Estado. A Aracruz Celulose (Fibria), para não perder o costume, liderou o ranking, "molhando a mão" de 28 candidatos a prefeito, em 17 municípios. Já a ArcelorMittal se concentrou na Grande Vitória, mas ao contrário do habitual, também pingou dinheiro – ou melhor, “merrecas” - nas contas de candidatos a vereador. Saiba quem são os políticos que deixaram o rabo preso com as poluidoras. E olho aberto!
 
Na Capital do Estado, os três principais candidatos, o prefeito eleito Luciano Rezende (PPS), Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB) e Iriny Lopes (PT) receberam financiamento das empresas. Os dois primeiros, que foram para o segundo turno, levaram cada um R$ 95 mil da Aracruz Celulose, e a terceira colocada, Iriny Lopes (PT), R$ 50 mil. A Arcelor compareceu com R$ 50 mil para as candidaturas de Luciano e Luiz Paulo, e com R$ 30 mil para a petista. 
 
Em Vila Velha, o prefeito eleito Rodney Miranda (DEM) levou R$ 90 mil da Aracruz e R$ 50 mil da ArcelorMittal. Neucimar Fraga (PR), o atual, não recebeu financiamento da Aracruz, mas “papou” R$ 30 mil da Arcelor. Para o ex-prefeito Max Filho (PSDB), que não chegou ao segundo turno, a Aracruz destinou R$ 50 mil e a Arcelor R$ 30 mil. 
 
Na Serra, a conta foi a seguinte: Audifax Barcelos, o eleito para comandar o município durante os próximos quatro anos, recebeu R$ 50 mil da Aracruz e R$ 40 mil da Arcelor. Já o pedetista Sérgio Vidigal, R$ 40 mil da siderúrgica. Alguns candidatos a vereador do município também levaram um trocado da Arcelor: Caetano Roque (PT), Aécio Leite (PT) e Bruno Lamas (PSB) receberam a quantia máxima destinada pela empresa a vereadores nessas eleições, R$ 5 mil. 
 
Em Cariacica, o prefeito eleito Juninho (PPS) não recebeu dinheiro das duas poluidoras. O mesmo não se pode dizer do segundo e terceiro colocados na disputa, respectivamente Marcelo Santos (PMDB) e Lúcia Dornelas (PT), que cumprem mandatos na Assembleia Legislativa. A Arcelor doou, para cada um, R$ 12 mil. Outro deputado estadual candidato a prefeito, que vem a ser do PV e presidente da Comissão de Meio Ambiente da Casa, Sandro Locutor, recebeu os mesmos R$ 12 mil. 
 
Foi no município, aliás, que a siderúrgica mais “molhou a mão” de candidatos a vereador, ao todo doze: José Geraldo Gabrieli (PT) e Wellington Silva (PV) ficaram com o máximo doado pela Arcelor nesta disputa, R$ 4 mil. Em seguida, com R$ 3 mil, Heberton Pereira de Oliveira (PMN), Ozeias Lopes (PV), José Carlos Felício dos Santos (PSB), Marcelo David (PTdoB), Renato Machado (PSB) e Marcelo Lego (PV). E depois, com R$ 2 mil, João Batista Melo Vitorazi (PDT), Darcy Altoé (PT), Amarildo Araújo (PSB) e Joscemar Santana (PPS). 
 
A Arcelor parou por ai, mas a Aracruz Celulose rodou o interior. No norte do Estado, compareceu na disputa a prefeito em Fundão, doando R$ 10 mil para as candidaturas de João Manoel Miranda Nunes (DEM) e Claydson Pimentel Rodrigues (PSB); em João Neiva fez graça para Aluyzio Morellato (PP) – R$ 20 mil – e Romero (PT) – R$ 15 mil, e em Ibiraçu levou dinheiro da poluidora Duda Zanotti (PMN) – R$ 10 mil – e Naciene Vicente (DEM) - R$ 25 mil. 
 
No município onde tem sua sede industrial, em Aracruz, a empresa financiou R$ 80 mil para o prefeito eleito Marcelo Coelho (PMDB), hoje deputado estadual. O atual vice-prefeito, Jones Cavaglieri (PSB), derrotado na disputa, levou R$ 50 mil. 
 
Ali perto, em Linhares, o prefeito Guerino Zanon (PMDB), que não levou a disputa, recebeu R$ 50 mil da Aracruz. Em Sooretama, Alessandro Broedel Torezani (PV) recebeu R$ 10 mil. Mais adiante, o prefeito reeleito de São Mateus, Amadeu Boroto (PSB), recebeu os mesmos R$ 50 mil, assim como o ex-deputado estadual Paulo Roberto (PMDB), que está a um passo de voltar à Assembleia. No extremo norte, em Pinheiros, o deputado estadual Gildevan Fernandes (PV), também derrotado, levou R$ 20 mil da Aracruz. 
 
Do outro lado, na disputa pela prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim, o prefeito reeleito Carlos Casteglione (PT) recebeu doação de R$ 20 mil da Aracruz, e quantia semelhante levou o derrotado, deputado estadual Glauber Coelho (PR). Já em Mimoso do Sul, Flávia Cysne (PSB) recebeu R$ 10 mil. 
 
Em Iúna, quem recebeu dinheiro da Aracruz foi Rogério Cruz (PDT), também R$ 10 mil. No município de Ibatiba, chegou a mesma quantia para a campanha de Simião Dias (PDT), e ainda para Lidinei Gobbi (PSB) e Eliane Lorenzoni (PP) – mulher do deputado estadual Cacau Lorenzoni (PP) - em Marechal Floriano. A disputa em Santa Teresa também teve esse ingrediente a mais. Claumir Zamprogno (PSB) levou R$ 10 mil e Evanir Vieira da Silva (PMDB) R$ 15 mil. 
 
Isso sem falar nas doações ocultas, destinadas às nacionais dos partidos, que escondem da população o caminho percorrido pelo dinheiro e o montante repassado a cada candidato. Tanto a Aracruz quanto a Arcelor fizeram esse tipo de doação a nacionais de vários partidos, ao todo R$ 1,1 milhão e R$ 535,4 mil, respectivamente.
 
O raio-x ficou assim: a Aracruz Celulose “elegeu” este ano onze prefeitos: Luciano Rezende (Vitória), Rodney Miranda (Vila Velha), Audifax (Serra), Romero (João Neiva), Duda Zanotti (Ibiraçu), Marcelo Coelho (Aracruz), Carlos Casteglione (Cachoeiro), Flávia Cysne (Mimoso), Rogério Cruz (Iúna), Lidinei Gobbi (Marechal Floriano) e Claumir Zamprogno (Santa Teresa). 
 
Muitos que não venceram a disputa, porém, continuam com mandatos. São eles: a deputada federal Iriny Lopes e os deputados estaduais Marcelo Coelho, Sandro Locutor, Lúcia Dornelas, Glauber Coelho, Gildevan Fernandes e, provavelmente, Paulo Roberto. Entra no bolo também Cacau Lorenzoni. 
 
Já a Arcelor emplacou os prefeitos de Vitória, Vila Velha e Serra, além dos vereadores Bruno Lamas e Aécio Leite, na Serra, e Ozeias Lopes, Wellington Silva e Amarildo Araújo em Cariacica
 
É deles que nós teremos que cobrar. 



Manaira Medeiros é especialista em Educação e Gestão Ambiental

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