Sábado, 27 Abril 2024

O ovo se abriu

Domingo, 3 de maio de 2020, um dia marcante na história do Brasil, com o registro de 100 mil pessoas infectadas pelo coronavírus, sete mil mortes e um assustador colapso do sistema de saúde prestes a acontecer. Nesse dia também se comemora a liberdade de imprensa, mas, na cena da tragédia histórica brasileira, em lugar de festejos o destaque ficou com as agressões verbais e físicas a jornalistas e outros profissionais da área, no exercício de suas atividades. 

Os atos de extrema brutalidade ocorreram durante manifestações de grupos de extrema direita, em Brasília, que tiveram o ponto alto na aparição do presidente Jair Bolsonaro, com familiares e bajuladores, todos sem máscaras de proteção, despejando palavras que levam seu público, e só a ele, ao delírio: disse que não vai mais admitir interferência em seu governo, chegou ao limite, ressaltando que as Forças Armadas estão do lado do povo.

As reações foram imediatas, considerando que a fala presidencial fere o Estado Democrático de Direito, declaração explícita do autoritarismo que marca Bolsonaro, figura destituída de qualquer sentimento humanitário, que exala malignidade digna do seu alter ego, o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. A cada dia, nesses 15 meses do atual governo, o ovo da serpente se mexe, incha e estoura, revelando todo o veneno e pronta a picar a quem se opuser.

O ovo foi chocado desde 2014, com a destituição da presidente Dilma Rousseff, acalentada por muitos dos que agora mudam de indumentária, Sergio Moro à frente, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Dias Tofolli, Carmem Lúcia e tantos outros, que, levados pela fúria antipetista, se orgulharam em chocar o ovo, que mostra agora sua natureza maléfica.

Lembra 1938, na Alemanha, com mais de seis milhões de mortos em campos de concentração, e 1964, no Brasil, e seus quase 400 mortos e desaparecidos, inúmeros casos de corrupção e uma dívida externa, em 1985, de 105,171 bilhões de dólares, 53,8% do Produto Interno Bruto (PIB), num crescimento que alcança 32 vezes durante os governos militares.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Dívida realizada na Câmara dos Deputados, entre 2009 e 2010, não teve acesso a todos os documentos que comprovassem as origens e aplicação dos recursos oriundos da dívida contraída pelos militares.

As reações à fala de Bolsonaro surgiram de imediato. No entanto, se resumiram a notas de parlamentares e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), entre outras autoridades, divulgadas em redes sociais, e discretas entrevistas à imprensa.

Da bancada capixaba no Congresso, apenas o senador Fabiano Contarato (Rede) e o deputado Helder Salomão (PT) se manifestaram. O restante fez como o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP): silenciou. No meio desse cenário, ouvem-se sussurros do "toma lá, dá, cá" a demonstrar que a velha política está bem presente na vida nacional, Bolsonaro no comando desdizendo tudo o que prometeu. É cada um cuidando do seu, ainda mais em ano de eleições, mesmo em dúvida se elas realmente ocorrerão.

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