Quarta, 08 Mai 2024

O silêncio dos covardes

Depois do avanço promovido pela sociedade civil, que encubou e deu vida ao movimento pela ética na política e em defesa do voto consciente, que resultou na aprovação da Lei da Ficha Limpa, 2013 marca o retrocesso das instituições que insistem em seguir na contramão das conquistas da ainda jovem democracia brasileira.



Nas últimas 24 horas o País retrocedeu no mínimo uns 20 anos. Na noite dessa quinta (31), a Ordem dos Advogados do Brasil, justamente uma das instituições que apoiaram o movimento da Ficha Limpa, elegeu presidente Marcus Vinícius Furtado Coêlho, que é réu em um processo de improbidade. Nesta sexta (1), pela manhã, foi a vez dos senadores escolherem Renan Calheiros (PMDB-AL) para comandar o Senado, apesar das denúncias feitas pela Procuradoria-Geral da República que acusam o senador alagoano de falsidade ideológica, uso de documentos falsos e peculato.



A sexta-feira fatídica encerraria as eleições dos “fichas sujas” justamente no Espírito Santo, com mais um colecionar de processos dando a volta por cima: Theodorico Ferraço foi reeleito presidente da Assembleia Legislativa para o biênio 2013/2014.



As falas dos personagens que foram escolhidos para dirigir as três instituições são tão parecidas, que até parece que eles estudaram pela mesma cartilha.



Ferraço, Renan e Coêlho, não por coincidência, alegaram que as acusações têm viés político. Como dizia o personagem de Dias Gomes, em “O Bem Amado”, Odorico Paraguaçu, “isso deve ser intriga da oposição”. A propósito, que oposição? Por aqui, pelo menos, a eleição de Ferraço foi unânime.



No caso de Ferraço, particularmente, é difícil de engolir que no meio de quase três dezenas de processos não exista um único procedente, que não tenha nascido dos conchavos dos "intriguentos opositores" . Sem contar o escândalo desvelado pela Operação Derrama, no qual Ferraço foi indiciado, que é, sem dúvida, um dos maiores esquemas de corrupção da história recente deste Estado.



Ignorando o conjunto da obra judicial do cachoeirense, os 28 deputados que compareceram à Assembleia acharam por bem reconduzi-lo ao posto mais alto da Casa.



Ferraço, que normalmente é afeito à oratória, neste momento conturbado da sua cinquentenária carreira política, preferiu falar pouco, para não falar bobagem.



Mas as poucas palavras que soltou confirmam porque pessoas como ele, Coêlho e Renan continuarão agindo na contramão da transparência, da ética e moralidade.



No seu discurso, Ferraço nem enrubesceu quando disse que esta eleição tinha um “valor especial porque demonstra o valor da história”, se referindo ao reconhecimento dos colegas à sua carreira política. Em seguida, prometeu aos deputados e aos servidores da Assembleia que o ovacionavam freneticamente: "Teremos uma gestão austera, marcada pela ética e pela seriedade”. Isso mesmo. Ferraço quer fazer uma gestão austera e ética. Acreditem!



Ao final da cerimônia, no fundo constrangidos com o contexto que cercou a reeleição do demista, os deputados, a exemplo de Ferraço, também preferiram o silêncio.



Como disse o candidato Pedro Taques aos colegas senadores - antes da votação que elegeria o seu adversário Renan Calheiros presidente -, a votação no Senado acontecia em meio ao silêncio dos covardes: "Eu peço o voto de cada senador. Peço silêncio aos senhores. Ouçam esse silêncio. Esse silêncio é o silêncio do covarde. É o silêncio de quem tem medo. Sintam esse silêncio. Esse é o silêncio de quem aceita, de quem não resiste".

Veja mais notícias sobre Colunas.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Quarta, 08 Mai 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/