Sexta, 26 Abril 2024

O suicídio, algumas teorias sobre o fenômeno

Nas definições de suicídio de Jean Baechler, ele começa por tentar colocar o suicídio como a busca por uma solução existencial para um problema. Neste estudo ele começa por categorizar quatro tipos de suicídio, que são: o evasivo ou escapista, agressivo, oblativo e lúdico.

Nos subtipos de suicídio, são onze definições. O suicídio evasivo, que se divide em fuga de uma situação, luto após uma perda e o castigo por expiação. O suicídio agressivo se divide em crime, que tenta arrastar outro ou outros, a vingança, que tenta colocar a culpa sobre outro, a chantagem, que envolve a pressão sobre outra pessoa, o apelo, que envolve aviso e manipulação.

O suicídio oblativo se divide em sacrifício, este que tenta atingir um valor superior à vida, e a passagem, que é a busca de algo mais agradável. Por fim, o suicídio lúdico se divide em ordálico, que é o julgamento dos deuses, e o jogo, que é brincar com a vida.

Falando da psicologia social, no século XX houve o clássico trabalho de David Philips, em que ele examinou os dados estatísticos do suicídio, ao passo que compilava as primeiras páginas de jornal sobre suicídios no jornal "New York Times', entre 1946 e 1968.

Philips constatou um aumento de casos que logo associou ao "Efeito Werther", que vem do livro Os Sofrimentos do Jovem Werther, escrito pelo alemão Goethe, no século XVIII, obra de ficção que desencadeou uma onda de suicídios na Europa, afetando sobretudo jovens românticos.

Na psicologia social também se apresentam os casos de suicídios coletivos de seitas religiosas, neste temos como exemplos clássicos as seitas dos pastores Jim Jones, na Guiana, em 1978, David Koresch, nos EUA, em 1993, e Luc Jouret, na Suíça e no Canadá, em 1994.

Quanto aos modelos psicodinâmicos, há a relação do suicídio com experiências traumáticas individuais, e que implicam numa análise intrapsíquica, de estudo do inconsciente, e que levariam a uma compreensão sobre o fenômeno do suicídio, por sua vez, de uma forma diversa das concepções sociais sobre o mesmo.

Freud, o pai da psicanálise, tematizou a sexualidade e o suicídio, começando este trajeto em sua obra Luto e Melancolia, de 1917, se referindo aos instintos sexuais, associado a Eros, que renovariam a vida, e os instintos de morte, ligados a Thanatos, que teriam tendências autodestrutivas.

Freud, em Além do Princípio do Prazer, obra de 1920, sob o impacto do período que houve da primeira grande guerra, que durara de 1914 a 1918, diante da brutalidade que foi este acontecimento, com o uso de novas armas letais, como o gás mostarda, passa a teorizar sobre pulsões de vida e de morte, se afastando das teorias da sexualidade.

Na obra O Ego e o Id, de 1923, por sua vez, tem-se a teorização sobre um superego sádico e um ego masoquista, satisfazendo, assim, as necessidades de punição e sofrimento.

Na segunda geração da psicanálise, Karl Menninger busca aprofundar a teoria psicanalítica sobre o suicídio. Ele enumera os desejos de matar, de ser morto e de morrer.

O desejo de matar seria um instinto de destruição e agressão, ao passo que o desejo de ser morto, por sua vez, teria um aspecto masoquista de submissão e ligado a uma resposta do superego que seria o reflexo de uma necessidade de punição gerada por um sentimento de culpa, e o desejo de regressar ao ventre materno, por fim, estaria ligado ao desejo de morrer, como um tipo de impulso suicida transitório.

Menninger ainda distingue os comportamentos autolesivos como formas de suicídio, enumerando três tipos de suicídio, que seriam o suicídio crônico, que envolveria os psicóticos e os antissociais, o suicídio focal, ligado à automutilação, e o suicídio orgânico, que se relaciona ao portador de doença somática, que evidencia uma vontade inconsciente de morrer.

Melanie Klein, por sua vez, coloca o suicídio como um ataque seletivo, que tenta aniquilar a parte má do objeto, e preservar a parte boa, que seria valorizada pelo self. Esta teorização de Melanie Klein também serve para explicar algumas condutas de automutilação.

Ao passo que Freud coloca a relação objetal como mais universal e impessoal, Klein destaca os sentimentos diversos de paixão, ódio e inveja, dentre outros, como determinantes para o deslocamento da agressão.

Falando dos neofreudianos, tais como Alfred Adler, Karen Horney, Erich Fromm e Harry Stack Sullivan, pode-se verificar um afastamento do determinismo biológico e a valorização dos aspectos humanos das relações. Aqui se tem a contestação de conceitos de Freud como a teoria da libido, as pulsões e os recalcamentos.

Adler coloca a ideia de fracasso como uma interpretação para o fenômeno do suicídio, pois, com o isolamento do indivíduo, como um tipo de patologia social, com a falta de cooperação social, ocorre o crescimento do egoísmo e do egocentrismo.

Com Horney, o suicídio é resultado de uma personalidade neurótica resultante de conflitos da infância. Fromm colocava o pessimismo diante da vida como gerador do suicídio. Em Sullivan, o suicídio aparece como um ato de agressão, direcionado tanto para dentro como para fora do indivíduo.

Na terceira geração psicanalítica, figuras como Winnicott e Heinz Kohut. A organização do ego é garantida por uma boa relação com a mãe, para Winnicott, e ele coloca um self verdadeiro e um self falso, cuja falência deste self falso levaria ao suicídio.

Kohut, por fim, colocaria a ausência de empatia dos pais, neste contexto da sociedade contemporânea, e dando valor para o espaço da infância rumo ao caminho da maturidade, implicando os riscos, e indo aí na direção de um self trágico, e que pode ser chamado também de ansiedade de desintegração.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Blog
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