Rodney Miranda (DEM), longe de ser favorito nas eleições municipais deste ano, volta a apostar no seu lado sherifão para tentar se reeleger prefeito de Vila Velha. Afinal, a velha fórmula o elegeu deputado estadual mais votado em 2010; dois anos depois, o tiraria da condição de candidato azarão para derrotar dois tradicionais medalhões da política canela-verde (Neucimar Fraga e Max Filho).
Como explicar o fenômeno Rodney, perguntaria os incrédulos ainda aturdidos com as duas vitórias retumbantes do ex-secretário de Segurança de Paulo Hartung (PMDB), que teve passagem sofrível pela pasta. Durante sua gestão, o Espírito Santo viu seus índices de homicídios explodirem. Nunca se matou tanto gente no Estado: mais de 14 mil assassinatos em oito anos da dupla Hartung/Rodney.
Mais impressionante é que o resultado deletério na Segurança não comprometeu o desempenho eleitoral de Rodney nas duas vezes em que foi testado nas urnas. O fraco desempenho como secretário de Segurança foi ofuscado pelo personagem do “sherifão”. O valentão que nada teme. O Rambo que veio para salvar a população da bandidagem.
A população elegeu Rodney duas vezes e deu no que deu. Um meio mandato apagado na Assembleia (alguém se lembra de algum projeto do Rodney?) e uma gestão sofrível à frente de Vila Velha, cujo cartão de visita foi abandonar a cidade literalmente debaixo d’água para curtir as férias em Nova York.
Depois de uma gestão desastrosa nesses três primeiros anos de governo, Rodney pôs na cabeça que não pode mais errar se pretende, pela terceira vez, contar com os votos do eleitor que já está com os dois pés atrás. Por isso decidiu não arriscar mais e ser pragmático. Recorrer à fórmula que sempre funcionou.
Na última sexta (19), o prefeito entregou a quinta base operacional da Guarda Aramada de Vila Velha, em Coqueiral de Itaparica. Correndo contra o relógio para tentar colher os resultados eleitorais da nova base a tempo, o prefeito já anunciou a convocação dos concursados e confirmou a data do treinamento dos novos agentes. Até julho, garante o prefeito, os novos guardas municipais já estarão nas ruas com suas armas em punho para proteger a população. Será?
Nada contra a Guarda Municipal. Aliás, boa parte dos grandes municípios também decidiu preencher o vazio deixado pelo Estado adotando a sua própria força de segurança.
A questão aqui é que Rodney trata a guarda como um trunfo de campanha. Basta olhar a localização das bases. Boa Vista (perto do Shopping Vila Velha), Praia da Costa, Glória, Praia de Itapuã e agora Itaparica. Esses são os bairros mais vulneráveis à violência em Vila Velha? Por que o prefeito não instala base em Barramares ou Terra Vermelha?
No carnaval, para refrescar a memória de Rodney, oito jovens foram assassinados em Vila Velha em seis dias. Só em Barramares morreram três.
Mas qual seria a visibilidade política de instalar uma base, por exemplo, em Barramares? Não precisa ter excelência em gestão pública para entender que as zonas de exclusão da cidade necessitam muito mais que uma base da GM.
As crianças de oito ou nove anos que amanhã estarão sendo arregimentadas pelo narcotráfico e empunhando armas precisam de políticas públicas efetivas, que possam competir com o mundo de ilusões do crime.
Mas isso requer pesados investimentos e não dá voto a curto prazo. Rodney precisa impressionar o formador de opinião que passa pelos bairros mais abastados de Vila Velha e que prescinde de sentir a presença da polícia. Uma base vistosa, com viaturas e policiais circulando a todo o momento, serve como trunfo eleitoral.
Ninguém vai poder dizer que Rodney não cumpriu sua promessa de campanha de montar e armar a Guarda Municipal canela-verde. Seus adversários poderão questioná-lo, porém, se ele solucionou ou pelo menos amenizou os problemas da violência em Vila Velha.
