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Ora, bolas

Meus amigos do futebol, como dizia o comentarista João Saldanha, a febre da Copa já vai passar. Não é um simples resfriado, mas também não é uma pneumonia. É uma febre de 20 dias em que ficaremos em volta do paciente discutindo se ele vai sobreviver.
 
Ora, bolas, é claro que vai sobreviver, o Brasil é uma potência: é até capaz de ganhar a Copa, na bola, ainda que tenha perdido o jogo da credibilidade como país organizador e receptor de grandes eventos.
 
Mas é preciso relativizar as coisas. Por exemplo, qual a credibilidade da Fifa como instituição global? Baixa. Qual o nível de transparência de suas jogadas? Baixo.     
 
Não, definitivamente, não é uma pneumonia e não vai deixar sequelas. Como toda epidemia, vai deixar lições. A maior delas é que, ao impor um modelo de negócio, a Fifa escancarou a globalização econômica entre nós, tornando explícitas as relações de mando no mundo do futebol, o qual se tornou um braço poderoso do mundo dos negócios.  
 
Poderíamos ter aprendido com a Fifa a organizar eventos, arte na qual somos pequenos. Fora o carnaval, uma bagunça mais ou menos organizada em torno do samba, somos desarticulados. E nossos maiores patrimônios naturais, como as praias, estão poluídas pelo excesso de ganância imobiliária.
 
O outro grande patrimônio, a Amazônia, é muito maior do que nós. Ainda não somos capazes de compreendê-la; muito menos, de amá-la e respeitá-la. No fundo, odiamos a Amazônia e gostaríamos de destruí-la, como fizemos com a maior parte da Mata Atlântica. Mas estamos evoluindo: até em relação a esses grandes biomas cresce a consciência de que devem ser preservados.
 
Cá entre nós, brasileiros, não cabe revolta diante do fato de a Fifa ter se tornado uma espécie de governo paralelo. É só por alguns dias. Houve um acordo do tipo “é pegar ou largar”. Embora mobilize todo o país, a Copa só acontece em 12 capitais e foi tudo combinado antes. Agora, se alguém tem culpa, não é a Fifa. Os fifólogos e os fifenhos estão na deles, ganhando dinheiro.
 
O então presidente Lula achou que sediar a Copa seria um avanço, um progresso, um alento para os brasileiros, que poderiam orgulhar-se de mostrar o país ao mundo num evento de audiência planetária. Em parte isso vai acontecer, mas por outro lado estamos sendo obrigados a seguir as regras criadas por um ente estrangeiro que, ainda por cima, nos critica por atrasos e nos chama de atrasados e outras coisas. Isso sim é uma alienação que ofende cidadãos determinados a fugir de ditadores, imperialismos e colonizadores.
 
Ao contrário da OMS ou da Cruz Vermelha, a Fifa não é uma instituição humanitária e, sim, uma máquina de fazer negócios em torno de jogos de futebol, eventos que interessam a milhões de pessoas e, portanto, mobilizam ativistas de dezenas de marcas e agentes de canais de TV, emissoras de rádio, jornais, revistas, blogs etc. Enfim, a Fifa encabeça uma gigantesca máquina de marketing. O mal da Copa está em ser apenas um negócio temporário com poucos reflexos permanentes. Mas deveríamos ter recusado o modus operandi da Fifa? A esta altura do campeonato, trata-se de uma pergunta inútil.  
 
Não adianta ficar encafifado. O jeito é tirar o proveito possível desse jogo de cartas marcadas que a grande maioria dos brasileiros só pode acompanhar pela TV ou pelo rádio, nunca mais ao vivo.
 
A elevação do Brasil a um patamar europeu de espetáculo nos coloca diante da pergunta inevitável: é isso mesmo o que queremos? A resposta talvez apareça nas urnas de 5 de outubro. 
 
LEMBRETE DE OCASIÃO
 
 “…não é essencial, para desempenhar o papel de torcedor, estar presente ao campo. Ir ao estádio talvez seja a forma superior da torcida, mas não é a forma exclusiva.”
 
Renato Pompeu no romance A Saída do P 

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