Sexta, 26 Abril 2024

Os desclassificados

Não adianta chorar nem tentar se esconder, eles nos alcançam, não importa se os odiamos ou mesmo se clicamos naquele X que, garantem, fazem com que se dissolvam no poluído ar da Internet. Feito mágica! Mas esse não é o X do problema. Começaram timidamente, hoje invadem nossas telas sem cerimônia - "Estamos usando cookies…" e ninguém ousa recusar. Concordo, aceito, acho justo, mas não estou interessada e quero ir em frente. Outras vezes o X é invisível, você nunca acha. Qual é a letra mais usada no alfabeto?

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Hoje é o Dia Internacional da Propaganda, seja ela enganosa, útil, fútil, ou idiota. Invasiva? Você decide. Estamos tomando toda sua tela? Estão, mas adianta reclamar? É via de mão dupla, precisamos de você tanto quanto você precisa de nós. Como? Esse dia ainda não existe? Propaganda, anúncio, classificados, marketing, seja lá que nome tenham, nasceram com a humanidade. Adão pôs uma folhinha de parreira e Eva não resistiu. Daí pra frente, nunca mais faltou um anúncio para nos convencer que isso é muito melhor que aquilo. No melhor do filme, no meio da novela, seja no trem ou no bonde… 

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Veja ilustre passageiro, o belo tipo trigueiro que o senhor tem ao seu lado. E no entanto acredite, quase morreu de bronquite, salvou-o o Rum Creosotado. Isso em 1920. Observe as nuances gramaticais: o tipo trigueiro era homem ou mulher? Naqueles idos a gramática era seguida à risca - era do sexo feminino, mas o rum salvou o tipo trigueiro. E vamos nós acompanhando a evolução do monstro: lê-los, vê-los, absorvê-los ou absolvê-los? Sai da linha ou o trem te pega.

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Outra propaganda brasileira que fez história: Miguel Gustavo criou um jingle para o Toddy Quem sabe, sabe / Conhece bem / Por isso Toddy/ Prova o que tem. Joel de Almeida e Carvalhinho a levaram para o Carnaval de 1956: Quem sabe sabe, conhece bem, como é gostoso gostar de alguém. Todo mundo gostou. Um anúncio da Brastel também virou a Marchinha da Banana. Quem, nos alegres carnavais de outrora, de máscara negra e sem vírus, tava se importando de onde vinha a música? Viva o Zé Pereira!

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A propaganda faz sucesso porque mexe com a libido - uma espécie de hipnose coletiva. Basta repetir mil vezes, e acreditamos piamente. A mensagem fica registrada no inconsciente e na hora da compra - bumba! Vou levar esse que já conheço. Ou basta fazer bem feito: se gostamos da imagem e repetimos o refrão, absorvemos o veneno e o aceitamos como verdade verdadeira. Tal como as fake news - de tanto ir ao poço o balde já traz a água sozinho.


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Sábado, 27 Abril 2024

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