Quarta, 08 Mai 2024

Os modernos

Em 1997, a editora Jorge Zahar lançava no mercado brasileiro a tradução do livro O mal-estar da pós-modernidade, do sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Na introdução da obra, Bauman recorda a obra de Freud, lançada em 1930, e que tinha como tema “o mal-estar na cultura”.



No texto, Freud afirma que “o homem civilizado trocou um quinhão das suas possibilidades de felicidade por um quinhão de segurança”. Ele se referia à sociedade moderna. Bauman vai tratar da inversão dessa ordem, ao falar do homem pós-moderno, que deixa a segurança em segundo plano em favor da satisfação individual.



Partindo desta lógica, a leitura que se faz do sistema ideológico sorrateiro que se apresenta no Brasil e em especial no Espírito Santo, hoje segue ainda uma tendência que era preconizada na década de 1930. As instituições, aliadas a uma parte da imprensa que cada vez mais se mostra conservadora, vem ditando uma série de regras que a cada passo tornam mais visíveis a ideia de controle social.



Os legisladores são a parte desse sistema conservador que mais assume seu perfil opressor. Em vez de usar a política em favor do atendimento das necessidades básicas da população, os governantes se acham no direito de ditar regras de comportamento. As proibições ao cidadão comum são muitas. Uma ideia higiênica, sanitarista, tomou conta da classe política.



Em vez de oferecer saúde de qualidade, educação e segurança, legisladores e governantes preferem empunhar as bandeiras das perseguições aos vícios, aos erros do cidadão, que cada vez se sente mais acuado em tomar suas decisões, fazer escolhas.



Ao retornar do recesso parlamentar, nossos nobres legisladores, seja das Câmaras municipais, da Assembleia ou do Congresso Nacional, retomarão suas  bandeiras. Como explica Bauman, os defensores da pureza vão novamente voltar suas artilharias contra o que vai contra a moral e os bons costumes.



Os exemplos dessas bandeiras que destoam da condição do homem pós-moderno são muitos. Para a classe política é preciso combater o álcool, a fritura, o cigarro, o açúcar, as drogas, o ateísmo, a homossexualidade, tudo aquilo que foge à regra.



Regra essa convencionada por uma parte da população, que se acha detentora da verdade que decide o que é e o que não é aceitável. Tudo que não cabe nessa caixinha deve ser eliminado, como os usuários de drogas no centro da cidade de São Paulo, que devem ser internados, não para que possam ter um tratamento digno e ou qualquer coisa assim, mas para que parem de poluir a visão da elite.



A “sujeira” tem de ser varrida para debaixo do tapete. E se puder lucrar com isso, ótimo. Então, contratos com empresas samaritanas de ajuda ao “drogados”, são assinados indiscriminadamente.  Sabe Deus com que tipo de acordos.

 

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