Sábado, 04 Mai 2024

Os porões da ???casa arrumada???

Com o fim da Era Hartung, sucumbiu também o arranjo institucional que dava sustentação ao seu governo. Uma das funções estratégicas desse arranjo era exercida pelo Ministério Público Estadual, que tinha a função de “engavetar” as denúncias que esbarrassem nos aliados do governador. 

 
De dois anos para cá, embora Renato Casagrande tenha se comprometido a fazer um governo de continuidade - selando uma espécie de armistício com o antecessor -, algumas denúncias finalmente começaram a andar. Isso só aconteceu graças à autonomia que foi devolvida às instituições (ou parte delas), outrora subservientes ao arranjo.
 
Talvez muitos leitores ainda não tenham percebido a importância e dimensão da reportagem publicada nesta quarta-feira (13). Depois de se manter blindado por mais de uma década, o ex-governador finalmente foi denunciado numa ação de improbidade administrativa. Não qualquer ação, mas uma de grandes proporções e farta materialidade.
 
Além de Hartung, o promotor de Justiça Dilton Depes Tallon Netto denunciou outras sete pessoas. Pelo menos três delas têm estreita ligação com Hartung. Os ex-secretários da Fazenda, José Teófilo de Oliveira (atual sócio de Hartung no escritório de consultoria Éconos) e Bruno Negris (atual presidente do Banestes); e o ex-secretário de Transportes e Obras Públicas, Neivaldo Bragato (hoje presidente da Companhia Espírito-santense de Saneamento, a Cesan). 
 
Membros do chamado “núcleo duro” de Hartung, os três, sob o comando do então governador, são suspeitos de envolvimento num escândalo milionário. O grupo é acusado pelo promotor de fraudar as obras de construção do posto fiscal São José do Carmo, em Mimoso do Sul (sul do Estado).
 
Ao todo, a fraude jogou no ralo a vultosa quantia de R$ 25 milhões. Em 2005, o então governador deu ordem para o início das obras. A soma milionária, no entanto, serviu apenas para desapropriar a área e iniciar o serviço de terraplanagem. Posto que é bom, nada. 
 
A empreiteira Araribóia, responsável pela obra, demorou quatro anos para fazer a terraplanagem. Um mês antes do término do serviço de terraplanagem, o governador mudou de ideia. Decidiu baixar um decreto extinguindo todos os postos fiscais do Estado, inclusive o de Mimoso do Sul.
 
Estranhamente, para não escrever outra coisa, o próprio Hartung autorizou, em 2010, uma licitação para a conclusão das obras no valor de R$ 2,9 milhões, que nunca saíram do papel.
 
No final do ano passado, o deputado estadual Gilsinho Lopes (PR), quando soube que a obra de R$ 25 milhões ficou só na terraplanagem, pediu que o então secretário de Hartung, José Teófilo, fosse à Assembleia para explicar o inexplicável. 
 
Mais uma vez, o pacto com o atual governo funcionou, e o atual secretário de Fazenda, Maurício Duque, prometeu dar as explicações sobre as obras, deixando Hartung e Teófilo fora do imbróglio. 
 
A denúncia do promotor Dilton Depes Tallon Netto – vamos repetir o nome dele para que todos gravem – é histórica, pois acusa formalmente o ex-governador e seu grupo mais próximo de improbidade administrativa. A denúncia, que já tramita na Justiça, inaugura aquela que pode ser uma série bastante esperada por parte da população capixaba, que sempre desconfiou que havia muita sujeira escondida no porões da malfadada “casa arrumada”. 

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