Quarta, 01 Mai 2024

Lírios do campo

Enquanto a Rússia ataca sem dó nem pena a incrível Ucrânia, dia 27/01 entrou para a história comemorando a tomada do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia. Pelos russos. Era o fim de uma guerra cruel que ceifou a vida de milhões e mudou o destino do mundo chamado civilizado. O que aprendemos com a história? Muito pouco, na verdade.

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Por mais que se pregue igualdade-fraternidade em uma civilização mais civilizada, por toda parte e a toda hora assistimos atos de desigualdade e discriminação. O Globo de Ouro desse ano foi uma ode à negritude, tentando reparar os erros do passado. Houve um tempo em que um negro nos filmes de Hollywood só ganhava papel de culpado ou de empregada.

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Tem apenas 20 anos que Halle Berry levou o Oscar de melhor atriz pela atuação no filme A Última Ceia. Ao receber a cobiçada estatueta, ela disse: "Este momento é muito maior do que eu. Este momento é para Dorothy Dandridge, Lena Horne, Diahann Carroll. É para as mulheres que estão ao meu lado, Jada Pinkett, Angela Bassett, Vivica Fox. E é para cada mulher de cor sem nome e sem rosto que agora tem uma chance, porque esta porta esta noite foi aberta". Convenhamos, no Brasil Halle nem seria considerada negra.

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Sidney Poitier foi o primeiro artista negro a receber um Oscar de melhor ator, no filme, Lírios do Vale (no Brasil: Uma voz nas sombras), em 1964. Antes dele, apenas a atriz Hattie McDaniel recebeu a estatueta de melhor atriz coadjuvante em E o vento levou, em 1940. Depois de Poitier, a academia levou 19 anos para laurear atores negros, mas como coadjuvantes: Louis Gassett, em Oficial e Cavalheiro; Denzel Washington, em Tempo de Glória; Whoopi Goldberg, em Ghost, Cuba Gooding Jr, em Jerry Maguire.

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A Academia de Cinema e Arte levou 38 longos anos para outro ator negro ganhar o Oscar de melhor ator: Denzel Washington, em Dia de Treinamento. A pergunta que não se deve calar: onde os bons artistas negros se esconderam durante todo esse tempo? Muitos não ganharam os bons papéis que garantem o prêmio, outros ganharam, mas não foram reconhecidos.

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O que mudou na vida real? Muito pouco, como testemunhamos todos os dias. Os campos de extermínio de judeus na Europa viraram atração turística, enquanto a guerra na Ucrânia está perto de virar outra guerra mundial. Negros pobres continuam sendo a maioria da população carcerária, não apenas nos Estados Unidos, mas também no Brasil, que se autoproclama um país sem preconceito de cor. Mas com preconceito de pobre.


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