O movimento do presidente regional do PMDB, deputado federal Lelo Coimbra, devolvendo o cargo do partido ao governo cria uma impressão para fora de rompimento do partido com a base do governador Renato Casagrande. É, antes de mais nada, uma estratégia de legitimar o palanque peemedebista para a sucessão estadual em 2014.
Um discurso vinha sendo construído já há algum tempo de que o partido não tinha muito espaço na equipe do governador, com um ataque ao PT que tem duas secretarias e a vice-governadoria. Um discurso desproporcional, se comparado a influência política e orçamentária da Secretaria de Transportes e Obras Públicas, comandada por Fábio Damasceno com as secretarias petistas de Assistência Social e a de Turismo.
Damasceno não é um nome do PMDB, não foi uma indicação do partido e sim do próprio Lelo. Além disso, permanecerão vários aliados, que sem o rótulo PMDB estão na estrutura, mantendo o controle do projeto político vigente no Estado, que se iniciou com Hartung e não foi alterado no governo Renato Casagrande.
Neste sentido, não há que se falar em rompimento do PMDB com a base de Casagrande. Trata-se de uma estratégia político-eleitoral, do grupo de Hartung que visa a atrair a atenção do PT nacional na costura de um palanque do grupo contra a reeleição do socialista, passando por cima das idiossincrasias internas no Estado.
Isso porque, o projeto esbarra na resistência da bancada do partido na Assembleia Legislativa, preocupada com as garantias de competitividade na disputa proporcional. Assim como o PT no Estado, que sabe muito bem o que significa se unir ao PMDB, ou melhor, ao grupo de Hartung, porque no grupo está também o PSDB de Aécio Neves (MG). Se o PT tiver de ir para o palanque do grupo, vai contra a vontade.
A saída de Damasceno afeta uma estratégia de Casagrande de destacar da equipe três secretários para gerenciar as crises constantes da gestão: Damasceno, na questão da mobilidade, pauta da rua; Tyago Hoffmann, que agora na Casa Civil vai fazer as vezes de articulador político; e André Garcia, na dura missão de reverter a complicada crise de segurança, herdada do governo passado.
Enquanto o PMDB faz seu jogo de cena no Espírito Santo, o ex-governador utiliza sua influência com parte da imprensa para criar um ambiente de parceria com o ex-presidente Lula como alternativa ao governo e, paralelamente, investe em sua própria imagem para chegar em 2014 blindado e mais forte para a disputa ou para o apoio ao aliado. A saída de Damasceno pode até significar o afastamento do partido do governo para fora das articulações, mas dizer que o PMDB rompeu com o governador Renato Casagrande, isso não.
Fragmentos:
1 – A impressão no mercado político é de que se dependesse apenas de Dilma Rousseff, o único candidato que lhe demonstrou fidelidade no processo eleitoral passado no Espírito Santo foi o senador Magno Malta (PR). Mas isso não depende só da presidente.
2 – Adequar o perfil ideológico do senador com os interesses do PT no Estado é muito difícil, daí a tentativa do PT capixaba em continuar na base de Renato Casagrande. Até porque no grupo, tem mais chances nas proporcionais.
3 – Já Malta tenta passar a impressão de que a saída de medalhões do partido não vai afetar seu projeto para 2014. Por isso, vai triplicar o número de candidatos.