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Paradoxo do consumo

Enquanto técnicos dos governos quebram a cabeça e gastam fortunas desenvolvendo projetos de infraestrutura e mobilidade urbana, outros técnicos bolam fórmulas para estimular o consumo e entupir as ruas de carros.
 
A redução do IPI (Imposto sobre o Produto Industrializado) foi um dos principais atrativos para manter as vendas de carros em alta. Deu certo. Tanto que a redução do imposto, que deveria acabar em abril último, foi prorrogada para o final deste ano. O governo federal temia que o fim do estímulo pudesse desaquecer o mercado, gerando desemprego na indústria automobilística e em toda a cadeia a ela agregada.
 
Um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), feito com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE) 2012, sobre os deslocamentos casa-trabalho, assim como sobre a posse de veículos automotores e o acesso à política de auxílio-transporte, mostraram que o gargalo da mobilidade urbana está cada vez mais apertado, muito em função do crescimento da frota de veículos particulares versus os parcos investimentos em transporte público.
 
No Espírito Santo, no comparativo entre 2008 e 2012, o número de veículos particular por domicílio cresceu mais que a média nacional no mesmo período: oito pontos contra 11 do Estado. A posse de veículos particulares no Estado chega a 54,6%, ou seja, mais da metade dos domicílios capixabas tem na garagem um carro ou uma moto.
 
Como os projetos de infraestrutura e mobilidade urbana não andam na mesma velocidade que a venda de veículos, é inevitável que o trânsito das regiões metropolitanas brasileiras – caso da Grande Vitória – se tornem cada vez mais caóticos. O levantamento apontou que os moradores das regiões metropolitanas gastam em média 40 minutos para chegar de carro ao trabalho. 
 
A taxa ascendente de motorização da população brasileira cria outro paradoxo. Nas ruas, o transporte individual acaba tendo prioridade sobre o coletivo. Geralmente, os projetos viários são criados para atender prioritariamente os carros (vide Terceira Ponte). 
 
Apesar do caos viário enfrentado diariamente pelos motoristas, sobretudo nas grandes cidades, a situação para quem depende do transporte coletivo ainda é bem pior.
 
Entre as pessoas com renda per capita de meio a um salário mínimo, 17% passam mais de uma hora no deslocamento casa-trabalho. Essa proporção é seis pontos percentuais superior à registrada nas famílias mais ricas (acima de cinco salários mínimos).
 
Os números indicados no estudo deixam patente que a tendência de aumento na taxa de motorização da população é irreversível, mesmo nas classes C e D. Há alguns anos, o carro era um bem mais comum às classes A e B (em 2003, representava 6% da população). Em 2011, essa mesma classe aumentou para 12% e, juntamente com a classe C (renda mensal entre R$ 1,2 mil e R$ 5 mil), que saltou de 31% para 55%, aumentando significativamente a venda de automóveis no país, como quer o governo. 
 
O importante agora é vender automóveis. A máxima do mercado ensina: “indústria automobilística forte, economia forte”. Depois o mesmo governo terá que pensar em soluções de infraestrutura e mobilidade para desatar o nó criado por ele mesmo. E assim a roda continua girando…

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