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Pátria edulcorada

Está colocada em xeque à frente do Ministério da Educação a capacidade de gestão do professor de filosofia Renato Janine Ribeiro, comprovadamente bom de fala e de escrita. Considerado “brilhante”, ele substitui no cargo o engenheiro cearense Cid Gomes, que caiu por dizer que no Congresso Nacional existem “300 a 400 achacadores” -– fala certamente inspirada em Lula, que viu “300 picaretas” no mesmo parlamento, quando por lá passou, na época da Constituinte de 1988.
 
Cid Gomes foi prefeito de Sobral e governador do Ceará. Como prefeito, criou um projeto de alfabetização que acabou sendo adotado como exemplar pelo Ministério da Educação. É um projeto antiPauloFreire, um retrocesso em relação ao projeto de educação do PT dos anos 1980 e 1990. Nesse aspecto, a saída de Cid do MEC foi um avanço, pois o projeto de Sobral propõe um retorno à concepção de alfabetização funcional à moda antiga, desvinculada da semântica, do uso social da escrita e da leitura, como é o método de Paulo Freire, cuja “pedagogia do oprimido” ganhou admiradores em vários países.   
 
Na cerimônia de posse no MEC, Renato Janine foi superficial e cauteloso como todos os políticos. Fazendo média com a presidente Dilma, falou em manter a prioridade ao ensino básico, que vai da creche ao ginásio, adiantando que pretende engajar nessa tarefa institutos e universidades, para aumentar o rendimento dos recursos econômicos, didáticos e de infraestrutura. Na teoria é boa ideia que precisa vencer a resistência das corporações funcionais, mais interessadas em vantagens para si do que em benefícios para a clientela cidadã. 
 
Na posse, Janine também garantiu a manutenção do Pronatec, que subordina a educação técnica à necessidade de formação de mão-de-obra minimamente qualificada para atender ao mercado de trabalho.  Demonstra assim estar afinado com os anseios do empresariado que avança na área educacional por meio de parcerias público-privadas bastante rentáveis (ProUni, Pronatec). Mais não disse embora lhe tenham perguntado numa entrevista coletiva bastante dispersiva.  
 
Amarrada a um slogan vazio –– “Pátria Educadora”, de inspiração vagamente nacionalista e cuja autoria é desconhecida —, a política educacional do segundo governo Dilma está atrelada ao ideário neoliberal, que prega uma visão utilitarista do ensino. Assim, a “modernização” que se apregoa visa reformar o currículo do ensino médio mediante a supressão, por “anacronismo”, de matérias como arte, ciência, cultura, geografia e história. Centrada no ensino de português e matemática, a reforma do ensino médio é uma meta reafirmada por Dilma Rousseff em seu discurso de posse.
 
À primeira vista, é de duvidar que um filósofo da Universidade de São Paulo engula a trolha mercadista que se tenta impor como política educacional, mas há gente capaz de negar a mãe por um cargo de proa. Segundo um veterano professor paulista que conhece bem Cid Gomes e Renato Janine, a presidente Dilma “trocou um jagunço por um picareta”. A conferir.  
Num debate recente, Janine mudou de posição quanto às fundações que atuam nos bastidores da USP: era contra, ficou a favor.
 
Em entrevista à revista Brasileiros de março último, ele criticou o autoritarismo da presidente Dilma e fez diversas considerações desabonadoras ao governo, mas acabou aceitando o convite para ser ministro.
 
De um ministro da Educação espera-se que, além de disposição para o diálogo, tenha firmeza de caráter para defender o que sempre pregou em aulas e artigos.
 
É o caso de perguntar: qual é a tua, Janine?  
 
LEMBRETE DE OCASIÃO
 
“A nação espera um estadista educador.”
 
José Honório Rodrigues, no final do capítulo sobre Educação do livro ASPIRAÇÕES NACIONAIS (Ed. Civilização Brasileira, 4ª ed., 1970)

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