É grave a denúncia levada à Associação de Cabos e Soldados (ACS) de que a Junta Militar de Saúde do Hospital da Polícia Militar (HPM) estaria obrigando os policiais afastados por problemas psicológicos ou psiquiátricos a voltarem à ativa. Segundo a denúncia, alguns policiais teriam sido ameaçados de prisão, caso não retornassem imediatamente ao trabalho.
Durante a paralisação da PM, em fevereiro deste ano, houve muitos casos de policiais que deram entrando no HPM por estresse psicológico ou mesmo surtos. Havia muito pressão sobre os policiais, que temiam pelos seus familiares que bloqueavam os batalhões impedindo as saídas das viaturas. À ocasião, o Comando da PM pressionou os médicos do HPM para que liberassem os “baixados”, dando a entender que os policiais estariam fazendo “corpo mole” como estratégia para não voltarem às ruas.
O movimento dos familiares do PM terminou no dia 25 de fevereiro, mas os problemas relacionados à saúde psicológica dos policiais continuam, o que permite deduzir que os afastamentos atuais não se explicariam, desta vez, por “corpo mole”.
Ora, que a atividade policial é estressante, ninguém discute. Não é novidade para que os policiais não recebem o apoio psicológico que a atividade exige. Numa atividade profissional com essas características estressantes, não é de se admirar que parte do efetivo sofra danos psicológicos agudos e recorrentes que os tirem de “combate” por alguns períodos. Não existem super-homens.
Segundo o advogado da Associação de Cabos e Soldados, Valdenir Júnior, os policiais teriam relatado que os médicos, obedecendo a ordens superiores, estariam antecipando as perícias para acelerar o retorno dos “baixados”, usando até a ameaça de prisão como recurso para ameaçá-los.
O mais grave nessa denúncia é que a Junta Militar de Saúde do HPM, que deveria avaliar se o policial deve ou não permanecer afastado das atividades por problema psicológico, estaria incompleta do profissional que é imprescindível para avaliar esses caso: o médico psiquiatra.
Durante a paralisação de fevereiro, quando diversos policiais apresentaram casos de surto, veio à tona o problema da falta de médicos psiquiatras no HPM. O problema é antigo. Em 2011, ACS denunciou as péssimas condições de atendimento do HPM, enfatizando, à época, que o setor de psiquiatria suspendera as atividades devido à falta de médicos.
Saúde tem de ser tratada com responsabilidade. A pressão externa do Comando da PM não pode interferir no atendimento médico dos policiais com problemas de saúde. A obrigação do Comando da PM, ante a precariedade do atendimento do HPM, é pressionar a Secretaria de Segurança Pública para que mais médicos psiquiatras sejam urgentemente contratados. Com as equipes completas para compor a Junta Militar de Saúde, como preveem os protocolos, os médicos poderão atestar, com independência e isenção, se o policial militar está ou não apto para voltar ao serviço. Obrigar o policial incapacitado física ou psicologicamente a voltar às ruas põe em risco a vida da população e do próprio policial.