Terça, 07 Mai 2024

Portas fechadas para o bom senso

 

Nesta sexta (15) faz uma semana que o Hospital dos Ferroviários fechou as portas. Com o fim das atividades, cerca de 400 pessoas que eram atendidas diariamente pelo hospital serão obrigadas a engrossar as filas em “outras freguesias”. Cirurgias, atendimentos ambulatoriais, exames e mais de 140 leitos também estão sendo subtraídos da já precária e caótica rede pública de saúde.
 
O hospital, que funcionava há quase um século em São Torquato, atendia especialmente a parcela mais carente da população de Vila Velha e região. Até agora, não se sabe com clareza por que o Estado decidiu não renovar o convênio com a Associação Beneficente dos Ferroviários da Estrada de Ferro Vitória a Minas, entidade filantrópica que administra o hospital. 
 
O que se sabe é que a Procuradoria Geral do Estado (PGE) deu parecer contrário à renovação do convênio, que venceu em outubro do ano passado. A PGE, a partir dos dados apurados por uma auditoria, apontou irregularidades na aplicação das verbas repassadas ao hospital. 
 
Sem o repasse mensal de cerca de R$ 900 mil que o hospital recebia do Estado – outros R$ 500 mil vinham do governo federal –, a direção da Associação avaliou que não havia mais como manter o atendimento. A saída encontrada foi fechar as portas. 
 
A Secretaria de Estado da Saúde e a PGE ainda não esclareceram quais seriam as irregularidades, mas isso não faz ou não deveria fazer a menor diferença agora. É preciso alertar aos burocratas da saúde que estamos lidando com vidas, não com números contábeis. 
 
Diante do caos instalado na saúde é inadmissível que o poder público permita que um hospital da importância do Ferroviários feche suas portas. Ao contrário, como não é novidade para ninguém, o Estado está com déficit de leitos, portanto, deveria abrir e não fechar hospitais. Com o fechamento do Hospital dos Ferroviários são 142 leitos a menos, mais de 40 cirurgias diárias que deixarão de ser feitas e 300 consultas ambulatoriais e exames que vão encalhar na demanda represada de outras unidades da rede pública.
 
Se houve algo errado nas contas do hospital, que se investiguem as irregularidades e punam com rigor os responsáveis. Mas tudo isso poderia ter sido feito sem encerrar as atividades do hospital. 
 
Ao deixar de repassar os recursos e inviabilizar o funcionamento do hospital, o Estado está punindo o paciente, que já está cansado de ser punido nos corredores da saúde, muitas vezes com a própria vida. 

Veja mais notícias sobre Colunas.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Terça, 07 Mai 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/