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Punaro Bley

O interessante livro em dois volumes organizado pelo militante de direitos humanos e vereador de Belo Horizonte (MG), Betinho Duarte, “Estamos vivos. A volta será pior”, traz inúmeras denúncias de violações de direitos humanos; depoimentos e relatos de perseguidos políticos e registros dos Jornais da época.
Chama atenção a presença do então general Punaro Bley, que comandou o Estado por quase uma década e meia. Foi interventor federal de 1930 a 1935, governador de 1935 a 1937 e novamente interventor de 1937 a 1943. Deu até nome a um estádio de futebol.
Em1930 assumiu o governo do Espírito Santo como interventor e durante mais de uma década esteve à frente do governo. Nesse período mostrou sua face autoritária, perseguindo jornalistas e opositores. 
O livro “Estamos vivos. A volta será pior” mostra que ele continuou autoritário na década de 1960, em Belo Horizonte. Se notabilizando pela prepotência contra a população, jornalistas que eventualmente fizessem alguma crítica a seu comportamento como comandante da IV Divisão do Exército.
Ironicamente sua agressividade se fez contra o jornal Binômio, de propriedade do deputado udenista Euro Arantes, que publicara notas citando a atuação do interventor Punaro Bley no Espírito Santo. 
O então general Punaro Bley, comandante da 4ª Infantaria, resolve tomar satisfação sobre uma reportagem publicada que relata a atuação dele como interventor, durante a ditadura de Vargas. Durante a discussão com o diretor do Binômio, o jornalista José Maria Rabelo, os dois saíram no tapa. O general, além de sair como olho roxo e ferimentos nos lábios, perdeu seu bastão de comando.
Grupos de do Exército e da Aeronáutica, sob o comando dos coronéis Itiberê Gouveia do Amaral e Miguel Cunha Lana, do 12º RI oficiais e praças, invadiram o jornal, que ficava no Centro de BH, no Edifício Pirapetinga. Destruíram arquivos, mesas e as máquinas de escrever foram lançadas do 8º andar na rua. Disparam tiros de metralhadoras e fecharam as lojas vizinhas aos gritos “a revolução está começando”, efetuaram prisões de diversos jornalistas. Dispersaram com violência, populares que se aproximaram em solidariedade ao Jornal.
Invadiram também sede do PSB e prenderam quatro deputados, o dono do jornal, o líder do PTB, Sebastião Patruz, Clodesmidt Riani (tio avô da vice-prefeita da Serra, Lourência Riani), do PTB e Frederico Bardini, do PSP
Essa fúria teve inicio motivada por matérias que narrava algumas das arbitrariedades do general Punaro Bley, enquanto esteve à frente do governo do Estado. Em uma nota, “responsabilizava o general pelo assassinato do juiz Ataulfo Lessa, adversário político do governo” e por ocasião do enterro o advogado Fernando Lindemberg, irmão do governador Lindemberg, acusando violentamente o interventor, tendo a polícia desfeito o enterro. “Até morto apanhou”. Também informou que, atacado pelo jornalista Lastênio Caldas, o general mandou prendê-lo e fê-lo “engolir o artigo e beber um vidro de óleo de rícino”.
Os fatos foram amplamente noticiados, com ampla repercussão em todos os jornais, com duras críticas das entidades de classe, da Assembleia Legislativa e no Congresso. É bom lembrar que tudo isto aconteceu antes do golpe civil-militar de 1964.
No Espírito Santo, o antigo estádio do Rio Branco tinha o nome do interventor João Punaro Bley. Devemos estabelecer critérios e referências para homenagear e/ou para retirar homenagens indevidas. A memória e a história estão em permanentes disputas na sociedade.
Pelo histórico de vida de Punaro Bley, ele não é um referencial positivo para as novas gerações.

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