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Quando as peças se encaixam

O dinheiro promove o bem e também o mal, dependendo de como é utilizado, e está presente em tudo, nas relações profissionais, familiares, políticas… Às vezes, direcionando estas relações, promovendo a glória, a estabilidade ou o fracasso.
 
Sabemos da existência, do uso e do abuso de drogas ilícitas, dos males que elas causam à saúde física, mental e social dos usuários, de suas famílias e da sociedade em geral, sendo considerado um problema de saúde pública. Vivemos em uma sociedade de consumo e as drogas ilícitas tem sido grande objeto deste, atingindo mais de 22% da população mundial, sem contabilizar os familiares, que também são afetados. Fazemos a relação disso com o uso dos recursos financeiros.
 
Numa projeção, um indivíduo que passa a abusar diariamente das drogas, primeiro perde o emprego e sucessivamente outro e outro, geralmente motivado pelas ausências não justificadas ou absurdamente justificadas, pela perda na concentração e, consequentemente, da queda na produtividade. Depois perde a credibilidade dos outros, seja pala manipulação típica da doença ou pelas desculpas insistentes, incluindo a de que parou ou que vai parar de usar as drogas.
 
Pergunto: – nesse cenário, como se sustentam? Se no caminho encontraram apenas subempregos ou perderam a capacidade laboral, o emprego e talvez até a condição de segurado previdenciário… Geralmente alguém paga, sem talvez perceber que está colaborando com a doença. Sei que esse assunto dói, mas é necessário, porque o poder do dinheiro, ou de quem o detém, pode contribuir para a adesão ao processo de recuperação. O comportamento contrário leva, além do doente, também a sua família para o “buraco”.
 
Pessoas movidas por boa vontade, pena, esperança ou para manter o amor fraternal, pagam por aquilo que não concordam, e geralmente o fazem, escondidos até de si mesmos, o que acaba por adoecê-los também.
 
Vale destacar que a dependência química tem tratamento e controle, e que o primeiro e todos os demais passos no processo de recuperação tem que ser dados pelo próprio indivíduo, com o apoio imprescindível da família, dos amigos e da sociedade.
 
A dependência química leva famílias inteiras à falência, incluindo a financeira. Direta ou indiretamente, consciente ou inconscientemente, os recursos financeiros vão sendo destinados às investidas em tratamentos e em tentativas de comprar soluções para ocupar profissionalmente o indivíduo.
 
A partir da fase da desestruturação e com a exaustão familiar, alguns desses gastos, na realidade, visam manter o “problema” distante.
 
Há muita culpa nessas relações e contra isso é difícil brigar sozinho, precisam da intervenção e do acompanhamento de profissionais especializados, caso contrário, podem mascarar, distorcer e corroer as relações, as pessoas e as famílias. “É preciso ajuda, sozinho não há condições de parar”- relatou um paciente em recuperação .
 
“Na real” são famílias que vão perdendo, se desfazendo de seu patrimônio e até mesmo se endividando pelo caminho. Em alguns casos, “investem” garantindo o padrão de vida e uma suposta independência a filhos maiores de idade, desempregados ou subempregados. Outras famílias que “presenteiam” ou
 
“recompensam”, ancorados em suas supostas culpas. Tem famílias que, em seu desespero e despreparo, tentam “comprar” ou trocar a doença por um carro novo, um apartamento, mesmo não podendo.
 
É importante lembrar que todas as relações pedem limites e quando isso não acontece, ou quando o limite não é respeitado, colecionam prejuízos. O “não” é terapêutico, impõem esse limite, e deve ser sustentado.
 
Trabalha-se pela aceitação da doença, para corrigir os desvios através de acompanhamento especializado,tratando os sofrimentos da alma, reparando os danos causados à saúde física, mental, social, espiritual e financeira nos indivíduos e no seu entorno.
 
Lutar pela e para a retomada das rédeas da vida também passa pelo uso do dinheiro.
 
O não que damos ao outro é na verdade um sim à vida.
 

Ivana Medeiros Zon é assistente social,  especialista em Saúde Pública e em Estratégia Saúde da Família. Autora do Projeto Saúde Financeira na família: uma abordagem social, com foco em educação financeira.

Fale com a autora, mande suas dúvidas para [email protected]

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