Quinta, 25 Abril 2024

Quanto vale a cabeça de Roncalli?

 

As denúncias de corrupção no Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases) começam a provocar um turbilhão que pode ser capaz de arrastar pessoas de peso do governo, a maioria, remanescentes do governo Paulo Hartung. É o caso do secretário de Justiça Ângelo Roncalli, que começa sentir a pressão, uma vez que o escândalo aconteceu, como se diz popularmente, na barba dele.
 
Nessa segunda-feira (20), houve uma movimentação na Assembleia Legislativa, que já não anda com uma relação muito boa com o Palácio Anchieta, cobrando uma posição do governador Renato Casagrande em relação ao secretário. O deputado José Esmeraldo (PR) subiu à tribuna para exigir a saída do secretário e o cancelamento dos contratos com a Acadis, do colombiano Gerardo Mondragón, um dos pivôs do esquema.
 
Na tentativa de apaziguar o ânimo dos insatisfeitos, o governador convidou os deputados para um almoço-reunião nesta terça (21). Casagrande falou sobre a importância de manter a governabilidade. Lembrou aos parlamentares que o biênio 2013/2014 deve ser duro para o Estado e municípios. Ele listou o fim do Fundap e a iminente perda de receitas com as novas regras de partilha dos royalties do petróleo, além da crise financeira internacional, como componentes que podem comprometer o poder de investimento do Estado. 
 
Em contrapartida, diante do quadro pouco otimista, ele apresentou o programa de sustentabilidade aos parlamentares, mostrando que o governo já tem um plano “B” na manga para enfrentar a crise que se avizinha. 
 
Se o almoço foi bem digerido pelos deputados, a sobremesa, que só foi servida para alguns, foi mais indigesta. Houve uma conversa reservada com os deputados que querem a cabeça do secretário de Justiça Ângelo Roncalli. Diante da demanda dos parlamentares, o governador não disse nem sim nem não. Preferiu ficar em cima do muro. Em tom contemporizador, para não estremecer ainda mais a relação que já não é das melhores, o governador disse que prefere aguardar o andamento das investigações. 
 
Está claro que Casagrande não pode, pelo menos ainda, entregar a cabeça de Roncalli de bandeja aos deputados, que usariam Roncalli para lavar a alma da Assembleia. Em tempos eleitorais, a Assembleia daria tudo para sair exibindo à população a cabeça de Roncalli como um prêmio. 
 
O problema é que o acordo de Casagrande com o ex-governador Paulo Hartung o impede de mexer com os seus aliados. Casagrande não pode adiantar o passo, pois Hartung consideraria a manobra como quebra de acordo. 
 
Apesar do aumento da pressão por parte da opinião pública e da Assembleia, Casagrande procura tratar a questão com o máximo de cautela para não se indispor com o seu antecessor. 
 
Parece que a estratégia do governador e dar tranquilidade para as investigações avançarem. Mais à frente, quando as denúncias arrastarem Roncalli para a mesma vala que já sorveu Silvana Gallina e companhia, ele dirá que foi o andamento natural das investigações que envolveram o secretário. Isso o isentaria perante Hartung. 
 
Agora, se a sociedade civil espera que haja uma pressão para que as investigações apurem com isenção e seriedade o suposto envolvimento de Roncalli no escândalo, é mais provável que ela venha do Tribunal de Justiça, que hoje é a única instituição capaz de fazer as coisas andarem no Estado. 
 

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