Os movimentos da rua prosseguem exigindo colocar em prática as bandeiras de luta saídas das passeatas. Mas quando eles adentram no Espírito Santo, há que se acrescentar sua atípica realidade. Pois por aqui, o processo democrático foi sacrificado em nome de uma nova ordem, sustentada na exclusão popular e parlamento submisso.
Do povo que foi à rua em todo o país, visto pelo ângulo da proporcionalidade, o Espírito Santo, com os seus 100 mil na última quinta-feira (20) foi, sem dúvida alguma, um dos maiores. Com a democracia figurando como pressuposto básico.
Um mergulho na situação capixaba para encontrar as razões da sua interrupção democrática penaliza o Partido dos Trabalhadores (PT), que assumiu a proposta tirando da rua os seus quadros do movimento social, especialmente do sindical, que até o advento do governo Paulo Hartung (PMDB) bateu de frente com os demais governos estaduais.
Razão principal para o êxito desse período de exceção que já dura 10 anos, sem o qual os governos Paulo Hartung não teriam conseguido incluir nele o Judiciário, Ministério Público Estadual (MPES) e, sobretudo, a Assembleia Legislativa.
Ainda em termos de PT, é possível dizer que o período lhe foi trágico. O desempenho da sua bancada na Assembleia foi de total submissão aos desígnios autoritários estabelecido por PH. A ponto de ainda fraquejar no combate à corrupção, negando apoio à CPI que iria apurar o escândalo do Posto Fiscal Fantasma e, mais recentemente, deixando de assinar a CPI do Pó Preto, livrando a Vale e a ArcelorMittal de responder pela poluição que geram e que arrasa a Grande Vitória.
Não é sem sentido que a rua condenou os atuais partidos políticos, sem que fizesse qualquer exceção. Naturalmente não os excluiu. Pois para a existência da democracia, são necessários os partidos políticos. Mas é coisa para amanhã. Para esse novo momento, às portas de uma nova eleição, como prever a reação popular aos atuais partidos e atuais políticos? Como desmontar o quadro eleitoral atual do Espírito Santo? Pesquisa do Ibope assinala que 83% dos manifestantes no país não pertencem a qualquer partido político. Diante disso tudo que a rua produziu, ainda é possível criar novos mecanismos de conexão com o eleitor? Penso que não.