Logo que se elegeu governador do Espírito Santo pela terceira vez, Paulo Hartung, ainda antes de assumir o governo, começou a rascunhar seu projeto político para 2018. Àquela altura, PH almejava uma das duas cadeiras do Senado. Dentro dessa estratégia, procurou Magno Malta para selar um armistício de paz com o intuito de fechar o campo formando uma chapa conjunta com o senador do PR, virtual candidato à reeleição.
Esse primeiro flerte poderia evoluir para um namoro e até virar casamento, mas Ricardo Ferraço (PSDB) entrou sem pedir licença na relação para estragar os planos de PH. Quando Ricardo Ferraço ganhava espaço com Magno, porém, foi arrebatado pela Lava Jato. O senador do PR que vinha desfilando com o colega tucano, dando a entender que a dobradinha seria certa, preferiu manter distância. Essa formação tinha tudo para atrair uma terceira liderança, o ex-governador Renato Casagrande (PSB), que se esforçava para se aproximar da dupla. Mas não foi bem isso que aconteceu.
Correndo por fora, outro que ameaça entrar na disputa ao Senado é o deputado estadual Amaro Neto. O apresentador de TV estaria de saída do Solidariedade e prestes a entrar no PRB do ex-vereador de Vitória Devanir Ferreira. Amaro quer um partido que se adeque ao seu plano e não o contrário.
Se realmente Amaro entrar na corrida ao Senado, para Magno Malta é até interessante. O deputado tende ocupar parte desse espaço galgado por Ricardo Ferraço. Esse movimento poderia acabar empurrando a candidatura de Magno. As duas candidaturas de apelo popular poderiam criar uma liga espontânea e fechar o campo para os demais concorrentes.
Com tantos nomes se posicionando na linha de largada, os espaços ficam cada vez mais reduzidos para Hartung, que planejava ter controle absoluto nessa corrida. Sobre esses três nomes, alguns vão ponderar que PH tem ainda o controle sobre Amaro. Não é bem assim. O deputado vem trabalhando o fortalecimento de sua imagem com a criação da Ouvidoria da Assembleia. Na condição de ouvidor da Casa, Amaro quer mostrar ao eleitor que não é apenas um fenômeno midiático. A derrota para Luciano Rezende (PPS) na disputa à prefeitura de Vitória parece ter ensinado algumas lições ao deputado. Uma delas é que ele precisa entregar mais à população. De qualquer maneira, olhando para o retrospecto eleitoral de Amaro, é provável que ele volte a sacudir as urnas. Mas Amaro entraria na disputa ao Senado de olho na eleição de 2020 à prefeitura de Vitória – plano A do deputado.
Caso não dispute o Senado, Amaro pode até buscar a reeleição à Assembleia. Mas não sei se ele estaria disposto a conquistar uma montanha de votos para servir de escada para um monte de candidatos sem votos.
Ainda nessa lista ao Senado pode entrar Renato Casagrande (PSB). Neste momento, é difícil prever qual será o plano do ex-governador. Não dá para cravar, por exemplo, que ele é candidato ao Senado ou tampouco ao governo. O que se pode afirmar é que, independentemente do seu destino, terá a companhia indesejável do fantasma de PH, que não pretende dar paz ao socialista.
Aquele cenário que se desenhava após a eleição de 2014, de que os dois rivais voltariam a protagonizar um novo embate em 2018, parece que vez mais improvável. Não só em relação a Casagrande, mas também a PH.
A diferença entre os dois é que PH, independentemente do cargo que irá disputar, já trabalha forte para assegurar o controle do processo eleitoral. Hartung sabe usar a máquina como ninguém. Isso ficou evidente com o “pacote de bondades” que o governador já começou a distribuir pelo interior do Estado. Já Casagrande, mesmo com a máquina na mão, foi amassado no interior por Hartung em 2014.
Além do bom retrospecto no interior, outra vantagem de PH em relação a Casagrande é o fato de o governador manter alguns trunfos na manga. Ele trabalha eleitoralmente os nomes de uma trinca de secretários – Octaciano Neto (Agricultura), Eugênio Ricas (Controle e Transparência) e Júlio Pompeu (Direitos Humanos) – para usá-los como e na hora que bem entender.
De outro lado, Casagrande, isolado, tenta se aproximar de Magno e Ricardo Ferraço, mas não tem, neste momento, nenhuma contrapartida para oferecer-lhes.
O que Casagrande tem de concreto é a aliança com Luciano Rezende. O problema é que o prefeito de Vitória, que vinha ganhando destaque com a polêmica entre prefeitura e Cesan, também tomou tinta da Lava Jato e acusou o golpe. Desde então, saiu de cena. No auge da queda de braço com o governo, no caso Cesan, alguns observadores apostavam que Luciano poderia antecipar de 2022 para 2018 seu projeto de disputar o Palácio Anchieta. Agora, ninguém fala mais nisso.
Não posso deixar de incluir entre esses nomes o do deputado Sérgio Majeski (PSDB). Já disse, não sei que cargo ele pretende disputar, mas ele é um dos poucos com boa expectativa de votos e que tem a ficha intacta. Não tem Lava Jato, Odebrecht, JBS, nada macula a imagem ilibada de Majeski. Esse pode ser um diferencial na disputa. O retrospecto do seu mandato, que é positivo, também pode consolidá-lo numa posição estratégica no processo eleitoral de 2018.
Como já escrevi aqui, o que pode atrapalhá-lo é o PSDB. O partido tem a cereja do bolo nas mãos, mas não sabe onde colocá-la.