Terça, 30 Abril 2024

Ranços da ditadura

 

A denúncia do ex-gerente da Vale, André Almeida, que acusa a mineradora de manter uma verdadeira rede de espionagem para monitorar as ações de movimentos sociais, funcionários e até de jornalista, mostra que a empresa, que tenta passar à sociedade uma imagem de modernidade e avanço, se pauta em expedientes forjados nos porões da ditadura.
 
O ex-gerente formalizou denúncia no Ministério Público Federal explicando os detalhes das operações do serviço de inteligência da Vale, do qual fazia parte. Ele afirmou, segundo a coluna Radar da Revista Veja, que intermediava o pagamento de “propinas” a infiltrados nos movimentos sociais (Justiça nos Trilhos e Movimento dos Trabalhadores Sem Terra).
 
Segundo Almeida, funcionários tinham, invariavelmente, os telefones monitorados. Jornalistas também não escapavam do controle da Vale. Ele teria informado ao MPF uma lista com os nomes dos jornalistas “espionados” pela empresa. 
 
Em nota divulgada nesta segunda-feira (22), a empresa, obviamente, negou as acusações. A Vale afirma que a atitude do ex-gerente – que trabalhou durante seis anos no serviço de inteligência e segurança da empresa– é de “desespero”, já que ele teria sido demitido, no ano passado, por justa causa. 
 
Embora a Vale alegue que as acusações são infundadas, fica a pergunta: por que o ex-gerente denunciaria com tanta riqueza de detalhes a empresa, correndo inclusive o risco de ser processado? Seria tudo produto da imaginação de um ex-funcionário ressentido, disposto a tudo para se vingar da empresa? 
 
Ao denunciar a Vale e se incluir como agente das práticas arbitrárias, já que admitiu receber ordens para pagar os infiltrados nos movimentos sociais, o ex-gerente está se incriminando. Não parece, à primeira vista, uma atitude sensata contar um “monte de mentiras” para se incriminar.
 
O histórico da Vale também nos leva a crer que a denúncia do ex-gerente não é um devaneio. Notícia publicada por Século Diário (outra sobre a Vale) nesta segunda-feira (22) revela que a empresa terá que bancar um estudo para quantificar a poluição gerada pela Vale na Grande Vitória. 
 
O estudo de R$ 1.16 milhão será coordenado por uma empresa carioca. A chance inédita de se fazer um estudo isento sobre os danos causados pela poluidora foi determinado pela Justiça Federal, que atendeu a uma Ação Civil Pública impetrada pela Associação Nacional dos Amigos do Meio Ambiente (Anama), que cobra a redução da poluição na região. Na ação, a Anama pede o ressarcimento por danos causados à saúde e ao patrimonial dos moradores da Grande Vitória afetados pelas ações poluentes da mineradora. 
 
A ação movida em 2006, e que obtém suas primeiras vitórias após sete anos, mostra que a empresa tem recorrido a todos os expedientes jurídicos possíveis e imagináveis para evitar que o estudo avance e desvele os impactos gerados pela empresa ao meio ambiente e à saúde da população. 
 
Para tentar obstruir o estudo, a Vale depositou o valor (R$ 1,16 milhão) em juízo e continua recorrendo a manobras protelatórias para impedir a liberação do pagamento ao perito. 
 
Com o estudo, a ação pretende pedir à Justiça indenização aos moradores da Grande Vitória que adoeceram por conta da poluição, incluindo despesas médicas, farmacêuticas e hospitalares, e aqueles que tiveram imóveis depreciados por conta do pó preto, que exige despesas diárias com limpeza.
 
Será que a Vale também irá alegar que ação da Anama não passa de “denúncias infundadas”? 

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