Tem coisas que a gente aprende na infância; tem coisas que a gente não aprende nunca. Entre umas e outras, tem muitas outras coisas. Talvez pensando nisso, um certo George Washington escreveu, aos 16 anos, um livro chamado Regras de Civilidade e Comportamento Decente na Empresa e na Sociedade. Alguns anos mais tarde, esse mesmo Washington comandou a Guerra da Independência americana, expulsou os ingleses e sagrou-se o primeiro presidente do país.
São 110 regras baseadas em centenas de preceitos escritos pelos padres jesuítas franceses em 1595, e provavelmente foram escritas como um exercício de caligrafia ou tradução imposto por algum professor. A primeira delas, talvez englobando todas as outras, é bastante atual, “Toda ação feita na empresa deve demonstrar sinais de respeito aos presentes”. Mantenho as maiúsculas do original, usadas indiscriminadamente.
Pesco algumas que julguei mais interessantes ou mais engraçadas, e algumas que, ainda hoje, deveriam ser postadas em letras garrafais nos locais públicos. “Quando na Empresa, não colocar as Mãos em nenhuma Parte do Corpo geralmente Encoberta”. Parece óbvio, mas tem muita gente que põe. “Se espirrar, tossir, assoar, suspirar ou bocejar, não faça isso alto mas discretamente; não fale quando bocejar, mas ponha seu lenço ou a mão na boca e vire de lado”.
O espaço da coluna não me permite traduzir todas, mas mesmo em tempos tão liberais, é bom lembrar – “Não tire a roupa em presença de outros nem saia do quarto sumariamente vestido”. “No teatro, dê o lugar a quem chegou depois e não fale alto”. Imagina essa delicadeza praticada nos cinemas de hoje. “Quando sentar, mantenha os pés firmes e juntos; não coloque um sobre o outro nem cruze as pernas”. “Não demonstre alegria com o Infortúnio de outrem, mesmo que seja seu inimigo.” “Não tente ensinar seu igual na arte que ele professa, isso demonstra arrogância”.
“Não durma quando outros estão falando, não sente quando outros estão de pé, não fale quando puder ficar calado, não ande quando outros estão parados”. “Não mate vermes, pulgas, ou piolhos na presença de outros”. “Não ria muito alto ou por muito tempo nos espetáculos públicos”. “Quando visitar um doente, não se faça de médico se você não é um deles”. Ah, e nunca se esqueça, “Não fale mal dos ausentes, porque isso é Injusto”. “Se outros falam durante a refeição, preste atenção mas não fale com a comida na boca”.
Na biografia que escreveu sobre Washington, Richard Brookhiser disse, “Todas as regras de etiqueta do Ocidente moderno eram originalmente aristocratas. Cortesia significava comportamento apropriado na corte; cavalheirismo referia-se às atitudes dos cavalheiros”. Seja nobre ou plebeu, “Junte-se a homens de boa qualidade se você preza sua reputação; é melhor andar sozinho do que em má companhia”. E a regra número 110, “Procure manter vivo em seu coração essa pequena chama do fogo celeste chamada consciência”.