Nas articulações políticas, como no jogo de xadrez, há posicionamentos adotados, muitas vezes a contragosto, para retardar avanços dos adversários quando o jogador se vê em dificuldade para romper as barreiras colocadas à sua frente.
A posição denominada “Rei afogado” ocorre quando o Rei encontra-se encurralado em uma posição da qual não consegue sair, embora não seja xeque-mate, porque nenhum lance poderá livrá-lo das tropas contrárias.
A formação de um bloco de oposição ao governador Paulo Hartung (MDB), por analogia, o colocam bem próximo a uma situação parecida com essa posição do jogo de xadrez.
O avanço de forças contrárias articuladas nos últimos três anos ergueu um cenário em que o governador não encontra mais um campo propício para se autodenominar como “salvador da pátria”, o “cara”, no ditado popular, como ocorreu em algumas ocasiões em que ele apareceu como única alternativa capaz de administrar o Estado.
Ele insiste em manter essa imagem, como muito bem comprovam os discursos com o tom heróico, ao modo do teatro grego a exaltar os deuses do Olimpo, observados, invariavelmente, em suas aparições públicas: forma quadros, antevê o futuro, formata o Estado para um novo e alto patamar de desenvolvimento, um oásis nesse Brasil a caminho do fundo do poço, assim Hartung fala.
Joga bem, sabe manejar as pedras e avança com seus peões como no xadrez, casa a casa no tabuleiro político. Inicialmente, ele apresentou cinco, todos potenciais candidatos ao governo nas eleições deste ano.
O primeiro é o vice-governador César Colnago, depois vem o senador Ricardo Ferraço, ambos do PSDB, o ex-secretário de Segurança André Garcia (MDB), o presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso (PRB), e, por último, o deputado federal Sérgio Vidigal (PDT).
A definição sobre o escolhido, segundo ele afirmou em entrevista à imprensa, e para que a analogia com de xadrez seja mais precisa, vale lembrar que no jogo os peões são sete, portanto, faltam dois. São eles o prefeito da Serra, Audifax Barcelos (Rede), e o próprio Hartung, se estiver disposto a encarar uma disputa à reeleição.
A decisão para a reeleição, no entanto, só ocorrerá se houver desfalque no campo adversário, com a desistência de um dos dois oponentes, o ex-governador Renato Casagrande (PSB) e a senadora Rose de Freitas (Podemos), difícil de acontecer, mas não totalmente impossível, porque em política, como no xadrez, tudo é possível, ainda mais que no campo político as regras não são tão rígidas como no tabuleiro.
Na realidade, o cenário demonstra que Hartung usa sua infantaria visando abrir barreiras, desviar o foco e tentar mudar a situação. Para tanto, recorre até mesmo a nomes como do ex-secretário André Garcia, que nunca foi testado nas urnas, é desprovido de histórico político, além de desgastado com a greve da Polícia Militar e os índices da violência no Estado.
Ao retardar a definição e apresentar nomes de possíveis candidatos, Hartung monta uma estratégia de defesa, para não cair como o “Rei afogado” do xadrez, diante de uma oposição que se fortalece a cada jogada.
Desse modo, para evitar uma possível derrota, caso prevaleça o avanço da oposição, o governador prepara o tabuleiro para colocar um peão, que não pode retroceder, pois perdeu a capacidade locomotora. Tem que avançar, nem que seja para ser sacrificado.
Quanto rei, escapa e toma seu assento.