Sexta, 03 Mai 2024

Ronaldo versus Pontes

Neste segundo round, o representante do Tribunal de Justiça levou a melhor no embate contra o adversário do Ministério Público Estadual. A peleja começou nessa quinta-feira (25), quando o procurador-geral de Justiça apresentou seu parecer sobre as investigações da Operação Derrama. 

 
Motivado a salvar a reeleição do presidente da Assembleia Legislativa, Theodorico Ferraço, Pontes distorceu as funções que cabem a um procurador-chefe para fazer as vezes de “advogado de defesa” dos indiciados. Pontes, então, partiu para o ataque e passou a desqualificar o trabalho de investigação feito pelo Núcleo de Operações Criminosas e Combate à Corrupção (Nurocc). 
 
Ao pôr em xeque a consistência das provas, Pontes quis confrontar o desembargador Ronaldo Gonçalves Sousa, relator do inquérito no Tribunal de Justiça. O desembargador manifestara que as provas contra os indiciados eram contundentes, ricas em materialidade. Tanto é que há uma semana ele transformou as prisões provisórias em temporárias, e determinou a prisão de mais cinco suspeitos, entre os quais a mulher do presidente da Assembleia, a ex-prefeita de Itapemirim, Norma Ayub. 
 
Pontes, alimentando a “teoria da conspiração” de que há viés político nas investigações – reproduzida por parte da imprensa – também considerou as prisões desnecessárias. Ele não escreveu isto, mas, na verdade, queria mandar um recado ao desembargador, avisar que a decisão do Tribunal pela manutenção das prisões foi arbitrária, fruto dessa “perseguição”. 
 
Usando simbolicamente o pedido de Norma Ayub para representar os demais, Pontes pediu a imediata revogação das prisões, garantindo que não haveria interferência dos indiciados nas investigações, como alegara o desembargador. 
 
O contragolpe do desembargador à investida de Pontes, que tentou desqualificar as investigações da polícia e o trabalho dos tribunais de Justiça e de Contas, veio na noite desta sexta-feira (25). 
 
Na decisão, Ronaldo de Sousa, que parecia estar acuado nas cordas por Pontes, reagiu com o duro contragolpe para mostrar ao chefe do MPES que os tempos são outros, e que será bem mais difícil para o órgão, como é de costume, engavetar mais esse caso. Hoje a sociedade também está de olho e quer mudança, como mostrou nas urnas nas últimas eleições. 
 
Para responder ao procurador-geral, o desembargador vestiu uma luva da mais nobre pelica para desferir um contragolpe dolorido, bem no fígado de Pontes. 
 
Ronaldo de Sousa informou a Pontes que praticamente todos os seus pedidos já estavam atendidos, ou seja, a estratégia do procurador em ridicularizar as investigações e adotar manobras protelatórias para travar o caso estava com os dias contados. 
 
No parecer, Pontes argumentou que não havia conexão entre o esquema da CMS e as prefeituras envolvidas na cobrança ilegal de tributos. Escorado nessa tese, Pontes pediu o desmembramento do inquérito. Dessa maneira, a manobra fragmentaria o inquérito, tirando a sua força, e facilitaria as coisas para os indiciados. 
 
Na decisão, o desembargador rechaça a tese do desmembramento. Em palavras polidas, ele quis dizer a Pontes que a caminhonete de provas que chegou ao Tribunal na última quinta-feira pode fazer o procurador-chefe rever seus conceitos, dada a contundência do material.
 
Quanto às prisões, que Pontes só faltou dizer que eram ilegais, Ronaldo não perdeu a oportunidade de fazer uma correção no parecer do “colega”. Ele lembrou ao procurador-geral que no pedido de revogação da prisão de Norma Ayub, Pontes teria sido genérico ao requerer a “extensão da conversão da medida restritiva de liberdade a todos os investigados que se encontram na mesma situação fática jurídica”. 
 
A escorregada de Pontes, que deverá fazer os pedidos de revogação de prisão um a um, poderá deixar os ex-prefeitos na prisão – salvo Norma – por mais um final de semana. 
 
Ao encerramento deste segundo round já deu para Eder Pontes perceber que o combate será duríssimo. Ronaldo parece estar bem preparado para uma luta prevista para 15 assaltos, confiante que ainda pode jogar o adversário à lona antes de o gongo soar pela última vez.

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