Segunda, 13 Mai 2024

Rosa dos Ventos

Ventos são as variações de humor do ar, todo mundo sabe. Bons ventos o tragam, se diz quando alguém é bem recebido, ou quando traz boas novas, boas coisas, ou se demorou a chegar. Não foi o que aconteceu com Rosa, que chegou na hora errada e flagrou o namorado com a melhor amiga numa atitude que se pode chamar de semeando os ventos da discórdia.
 
 
Rosa não chorou, já era mesmo tempo de dar o golpe de misericórdia no amor em estado de coma. Os ventos da mudança já se faziam anunciar, e era tempo de sair pra outra. Ou outro, de acordo com a direção dos ventos. Mas confirmando o adágio quem  semeia ventos colhe tempestade,  o namorado é que se deu mal, que a tal melhor amiga tinha um gênio de vendaval.
 
 
Rosa sai em busca de melhores brisas. Livrando-se de um romance sujeito a ventos e vendavais, chuvas e trovoadas, encontra Rauzito, argentino de Buenos Aires, e o relacionamento vai de vento em popa.  Na lua de mel vão para Key West, o extremo sul da Flórida e dos Estados Unidos, sem saber que um  furacão ronda a área  – o serviço de meteorologia já havia mandado evacuar a cidade.
 
 
Incautos, sem dar atenção ao noticiário local, Rosa e o argentino pegam no aeroporto o carro alugado e equipado com GPS, e partem para a lua de mel em um caro hotel à beira mar plantado. Seguindo as ordens da voz sem dono do aparelho, pegam a highway, mas qual não é a surpresa ao ver que está uma brisa mansa – só passa o carro deles! Puxa, os ventos sopram a nosso favor! diz Rosa, sem reparar que o caminho de volta está totalmente congestionado...
 
 
Gente apaixonada é assim mesmo, não enxerga um palmo adiante do nariz.  Só quando precisam abastecer é que percebem algo errado no ar – todos os postos desse lado estão fechado, enquanto os do outro lado têm filas imensas. Que ventos fortes sopram nessa terra, comenta Rosa, ao ver as árvores se movendo frenéticas, como se dançassem  zumba. Ao que o argentino replica,  olhando o céu escuro,  Vento, nada, ventania!
 
 
É quando um carro da polícia aparece como se trazido pelo vento – Xi, será que avançamos algum sinal? pergunta Rosa; Não tem sinal na highway, lembra o argentino. Então deve ser o limite de velocidade. Mas o policial não vem com cara de quem quer multar ninguém. Onde vão com tanta pressa? indaga, vendo que o carro é alugado. Em bom espanhol o argentino diz que vão passar a lua de mel em Key West.
 
 
O policial ri da ingenuidade dos dois – Não vão, íam, que os ventos não sopram favoráveis por essas bandas.  O policial os manda voltar, dando o endereço de outro hotel da rede em Miami. Bons ventos o trouxeram, diz o agradecido argentino ao policial; Bons ventos os levem, responde o policial. Os dois carros fazem a meia volta e vão engrossar a fila de retirada do outro lado da highway.
 
 
Enfim, dizem que ir a Miami e não ver furacão é como ir a Roma e não ver o papa. Ou quase. Antes de chegarem ao hotel ouvem no rádio do carro que o furacão se dissolveu no mar do Caribe. Ventos favoráveis sopram  no caminho de Key West, e a cidade está livre e desimpedida. Sem mais delongas, Rosa e o argentino fazem a meia volta e vão engrossar o trânsito engarrado do outro lado da highway. Bons ventos os levem.

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