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Roterdã é em Kennedy

Que o município de Presidente Kennedy é rico, todo mundo já sabe. Afinal, a acanhada cidadezinha sulista, com pouco mais de 11 mil habitantes, abocanha a maior participação sobre os royalties do Estado. Entre janeiro de 2009 a junho 2012, a prefeitura encheu seu cofres com mais de meio bilhão de reais só com os dividendos dos campos de petróleo que infestam seu litoral.
 
Apesar de ter o caixa vomitando dinheiro pelo ladrão, está redondamente enganado quem pensa que Kennedy é a Suíça capixaba. O município que detém o segundo maior PIB per capita do Estado, R$ 155.824 (dados do IBGE de 2010), ainda não conseguiu resolver as necessidades mais prementes da população, como saneamento básico, por exemplo. Mais de 60% das residências do município ainda não têm rede de esgoto. Os distritos rurais padecem com a falta d'água. Os moradores dependem de carros-pipa para encher seus reservatórios, pois não há rede de abastecimento.
 
A equação caixa cheio versus problemas sociais crônicos só poderia resultar em corrupção. O ex-prefeito Reginaldo Quinta (PTB) foi preso por corrupção em 2012. Envolvidos no esquema do então prefeito estavam pelo menos mais duas dúzias de pessoas, entre secretários, policiais, empresários e funcionários públicos. Quinta e seus amigos, até onde se sabe, são suspeitos de desviar R$ 55 milhões do erário.
 
Mas o município fundado em 1963 esconde outras riquezas além do petróleo. Outro grupo, este ligado ao ex-governador Paulo Hartung, também farejou o cheiro do dinheiro em Kennedy, e não vinha do petróleo.
 
A  empresa ZMM Empreendimentos e Participação Ltda foi criada com a finalidade de intermediar a compra de grandes áreas para mineradora Ferrous Resources. O ex-secretário de Fazenda e sócio do ex-governador numa empresa de consultoria empresarial (Éconos), José Teófilo, foi um dos articuladores da compra e venda de terrenos para a Ferrous. Um excelente negócio para quem tem uma boa bola de cristal ou informação privilegiada de dentro do governo. 
 
Mas Kennedy ainda poderia render mais, e novamente com o negócio de terras. Afinal, o município tem mais de 583 quilômetros quadrados de território. É terra que não acaba mais. E o que é melhor, em posição estratégica para os negócios. 
 
A nova mina de Kennedy, revelada com exclusividade por Século Diário, é o Porto Central. Um projeto incubado no governo Hartung e que começa a ganhar contornos sólidos no governo Casagrande. Para o negócio vingar, porém, basta que os empreendedores se livrem de alguns empecilhos. O que não tem sido problema para esse grupo desbravador do ex-governador. 
 
Não por acaso, como mostra a reportagem, os mesmos articuladores que estiveram envolvidos nas transações com a Ferrous voltam à cena. Afinal, o produto é o mesmo: terras. E nesse tema eles são catedráticos. 
 
A reportagem revela também que empresários mineiros estavam reivindicando terras de sua propriedade que estariam sendo “tomadas” pelo projeto. Segundo os empresários, os interlocutores do governo, que também é sócio no empreendimento, já avisaram que vão “passar o rodo” se eles ficarem na frente dos negócios. 
 
E eles não estavam brincando. Os empresários mineiros foram surpreendidos pelo decreto de desapropriação do governo, publicado nessa terça (27), que torna a área de utilidade pública, ou seja, bau-bau. Os empresários terão que se contentar com uma indenização do governo, que provavelmente não seguirá a tabela usada nas transações com a Ferrous.
 
Enquanto os donos de parte da área estão na iminência de dar adeus ao loteamento Cidade Balneária Solimar, os empresários já sentem a brisa do dinheiro que sopra do novo Porto Central. 
 
Paulo Hartung, por sua vez, está prestes de realizar um antigo sonho. Se Presidente Kennedy está longe de ser a Suíça capixaba, por todos os motivos já relatados no início deste texto, está muito perto de se tornar a versão kennediense do colossal porto de Roterdã. A população, porém, que já está fora dos royalties do petróleo, vai ficar novamente a ver navios. Disso, pelo menos, o povo não será privado. Muitos serão os navios que aportarão em Kennedy. Agora, o gostinho de viver num pedaço da Holanda, como idealizou lá atrás o ex-governador, é privilégio para um kleine groep

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