Rubem Braga se assustaria...
É evidente e recolho a reflexão de quem sabe das coisas: o papel de Bolsonaro no imaginário internacional é de um negacionista, cada vez mais perigoso, na medida em que o Brasil se torna o epicentro da pandemia mundial. Por isso, um golpe militar no Brasil vai colocar o país em choque com o mundo. Dois temas vão se entrelaçar: a pandemia e a destruição da Amazônia. Aliás, acompanho raciocínio alinhavado por Gabeira: é quase impossível que as Forças Armadas queiram participar dessa aventura.
Mudo para minha terra, onde até Rubem Braga se assustaria com o cenário que se projeta com a pandemia. Inclusive a Santa Casa, que é hospital de referência para a Covid 19, sofreu uma instabilidade elétrica e ficou sem energia, nessa quarta-feira (27). As pessoas não estão respeitando as medidas restritivas impostas pelo Prefeitura. As ruas estão cheias. A justificativa é a de que "Cachoeiro está na faixa que indica risco moderado". Mas os hospitais, paradoxalmente, estão batendo no teto, em quadro desesperador e dramático. E, por óbvio, há subnotificação.O jovem prefeito Victor Coelho (PSB), que vem enfrentando ainda os resquícios da cheia do rio Itapemirim, agora se vê diante da violência trágica desse quadro que assola o mundo e todo o país. Diz, em tom severo, que "se for preciso, o isolamento vai ser maior ainda". Lamentou que "aos domingos as pessoas deixam o isolamento e vão para as ruas". Apesar da pressão do comércio, afirmou "que vou preservar a vida humana".
Até mesmo a instabilidade na energia nas Santa Casa, a oposição joga nas suas costas. Aliás, sobre as próximas eleições, reflete que, no momento, a pandemia o absorve, embora não abandone a administração como um todo, apontando para a crise econômico-financeira. Os recursos que o Governo Federal liberaria para estados e municípios ainda não chegaram, o que tem gerado pânico.
Com 411.821 casos confirmados e 25.598 mortos pela Covid-19, o país tem taxa média de espalhamento do vírus de 1,9, o que significa que cada dez infectados transmitem a doença a 19 pessoas, segundo o grupo Covid-19 Analytics, do qual participa a PUC-Rio. O índice ainda é bem acima do número 1,0, considerado o necessário para estabilizar a epidemia.
Isso desorganizou os municípios, do ponto de vista de recursos e de capacidade para atender os doentes. Além disso, tenho em mãos pesquisa registrando que apenas 15% dos profissionais de saúde se sentem preparados para lidar com o novo coronavírus, enquanto ampla maioria não se vê com preparo para encarar os desafios da pandemia. O principal fator indicado é o medo pela vulnerabilidade de quem atua na linha de frente.
Nesse conjunto, o medo foi relatado por 91,25% dos agentes comunitários de saúde e dos agentes de combate a endemias. Entre eles, apenas 7,61% disseram se sentir preparados. Entre enfermeiros, esse índice ainda é consideravelmente baixo: 20,09%. Entre médicos, 77,68% relataram sentir medo e vulnerabilidade pelo contato constante com pacientes.
Os pesquisadores identificaram ainda uma fragilidade particular nos estados mais pobres. A falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) ajuda a explicar a sensação de vulnerabilidade. Apenas 32% dos profissionais relataram o recebimento de EPIs. Esse número é menor entre agentes comunitários e de combate: 19,65%. Os EPIs são, obviamente, uma condição básica para o trabalho na saúde.
Resumindo: esta é uma guerra que o jovem prefeito, queira ou não, terá que enfrentar, com todas as armas do bem, unindo todos, exatamente porque ao assumir esta enorme responsabilidade, o homem público se entrega a destino maior do que todas as suas aspirações, e que ele não poderá cumprir senão como permanente submissão ao povo.
Não se pode esquecer, porém, que todo político é louco pelo poder, seduzido pelo poder e para isso vive. E que as eleições estão chegando por aí. Quem cuidar bem da pandemia ganhará as eleições. Como mostra o mundo.
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