Domingo, 28 Abril 2024

Sem escudos

 

Nos meios políticos, o ex-governador Paulo Hartung sempre foi considerado um hábil estrategista. Para manter controle do Estado, ele lançou mão do chamado “arranjo institucional”. Evitar o embate direto com seus adversários sempre foi outra estratagema de Hartung. Quando precisa partiu para o enfrentamento terceirizava o "serviço sujo" para um dos seus homens de confiança.
 
Entre as táticas para minar o adversário, Hartung costuma recorrer ao Ministério Público, que se encarregava de perseguir os algozes e limpar o campo para o então governador. Outra estratégia era usar a mídia corporativa tanto para se proteger quanto para derrubar oponentes.
 
Neste caso envolvendo as "obras" do posto fiscal de Mimoso do Sul, o ex-secretário de Fazenda e atual sócio de Hartung, José Teófilo, pôs o peito na frente das acusações na tentativa de proteger o ex-governador de participação nas fraudes. Nos jornais desta sexta-feira (15), Teófilo surge como um crítico contumaz da denúncia ajuizada pelo Ministério Público Estadual – não pelos fatos de corrupção em si, mas pela simples inclusão do nome de Paulo Hartung na roda dos acusados.
 
Esse mesmo comportamento foi adotado pelo ex-secretário após o surgimento de denúncias de tráfico de influência na compra e venda de terrenos para a Ferrous Resources, em Presidente Kennedy (litoral sul do Estado). Logo após o presidente do Tribunal de Justiça do Estado (TJES), desembargador Pedro Valls Feu Rosa, incluir as suspeitas nos autos da Operação Lee Oswald, o sócio de Hartung confirmou a participação da Èconos nas negociatas, mas rechaçou qualquer relação entre a contratação e o deferimento de incentivos fiscais pelo então governador, livrando, mais uma vez, a cara do sócio e amigo.
 
Na época, José Teófilo fez um blog exclusivamente para se explicar e divulgar o encaminhamento de “toda documentação” ao chefe do Ministério Público [o promotor Eder Pontes da Silva], que por sinal não se pronunciou até hoje sobre o assunto.
 
A Procuradoria-Geral de Justiça também acabou servindo para minimizar a relação entre o grupo político do ex-governador e as fraudes reveladas na recente Operação Derrama. Mais do que arquivar as investigações contra autoridades com foro privilegiado, Eder Pontes colocou uma “ponta de dúvida” nas investigações – suficiente para garantir um salvo conduto dos ex-prefeitos presos, a maioria ligados a Hartung. Sem falar do presidente da Assembleia, Theodorico Ferraço (DEM), aliado polítco de primeira-hora de Hartung, que também foi "remido" por Pontes. 
 
Não foram poucos os casos da terceirização da defesa do ex-governador, o peemedebista passou incólume por outros escândalos, como a recente Operação Pixote – que revelou fraudes no sistema de internação de adolescentes com a ONG chefiada pelo colombiano Gerardo Mondragon (Acadis). Apesar de o ex-secretário de Justiça, Ângelo Roncalli, e da ex-diretora do Iases, Silvana Gallina – nomes fortes da gestão Hartung – terem sido denunciados, o nome do ex-governador passou ao largo da repercussão do caso.
 
Assim como nas denúncias de improbidade contra pessoas do “núcleo duro” do ex-governador, caso de Neivaldo Bragato, diretor-presidente da Cesan, que teve os bens bloqueados em outra ação que responde por supostas fraudes em uma obra emergencial com a empreiteira Contractor. 
 
E a lista não para por ai. A diferença é que agora, dois anos após deixar o governo, já sem o controle do arranjo nas mãos, e com os "escudos humanos" que sempre o protegeram sendo sistematicamente alvejados, Hartung passou a ser um alvo vulnerável. Situação completamente inédita para ele.  

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