Segunda, 29 Abril 2024

Sob fogo cruzado

 

O ex-governador Paulo Hartung conseguiu conviver com taxas de guerra civil no Estado durante oito anos de mandato sem que uma única bala resvalasse em seu currículo. A blindagem armada junto à imprensa corporativa impediu que a realidade sobre a violência não chegasse à população, sobretudo pelos veículos tradicionais ou de massa, como os jornais e televisão. Graças a isso, boa parte da população capixaba não ficou sabendo que quase 15 mil pessoas foram assassinadas no Estado na Era Hartung.
 
Prova dessa blindagem perfeita pôde ser testada com o ex-secretário de Segurança Rodney Miranda, hoje prefeito de Vila Velha. Mesmo fazendo a pior gestão à frente da Segurança Pública das últimas três décadas, Rodney deixou o governo Hartung com confiança suficiente para se candidatar, pela primeira vez, a deputado estadual. 
 
O trabalho de proteção e promoção da mídia foi tão bem feito que Rodney se elegeu como o candidato mais bem votado da Assembleia, com mais de 65 mil votos. Com resultados tão negativos no governo, nem ele imaginava que receberia votação tão estupenda. Soubesse, teria se aventurado logo de cara à Câmara dos Deputados, como chegou a cogitar no início. 
 
Como os dados da violência no Estado foram omitidos, Rodney pôde, com a ajuda da mídia, trabalhar a imagem do “supertira valentão”, aquele que nada temia e estava sempre pronto para enfrentar a bandidagem a bordo da sua caminhonete imponente e reluzente, que o carregava nas operações midiáticas Estado afora.
 
O personagem de Rambo foi tão bem construído que lhe deu estofo para disputar e vencer uma nova eleição, desta vez para prefeito de Vila Velha, batendo dois fortes adversários: Max Filho e Neucimar Fraga.
 
Mesmo durante a campanha a prefeito, a mídia foi amistosa com Rodney e com o seu chefe, o ex-governador Paulo Hartung, na hora de falar sobre o espinhoso tema da violência. Em nenhum debate a imprensa chegou a acuar Rodney para que ele explicasse os motivos de resultados tão pífios à frente da Segurança. Quando o assunto era violência, a imprensa fazia questão de tratar o tema olhando pra frente, nunca para trás. 
 
A ajuda manteve a imagem de Rodney incólume. Ele não precisou explicar nada, assim como Hartung também nunca precisou se desgastar com um tema considerado secundário e indigesto para ele. Diferente da realidade enfrentada por Casagrande, que está sob intenso fogo cruzado, e o que é pior, sem blindagem alguma. 
 
Com oito anos de atraso, a imprensa “entendeu” que o assunto é notícia porque afeta literalmente a vida das pessoas. Não há mais tempo a perder. A ordem agora é cobrir o assunto tim tim por tim tim. Tanto é que até um relógio foi criado para marcar minuto a minuto a violência no atual governo. 

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