Domingo, 28 Abril 2024

Subserviência ou rabo preso?

 

Na tarde da última quarta-feira (13), portanto, após o término da sessão da Assembleia Legislativa, Século Diário publicava uma reportagem sobre a ação do Ministério Público denunciando que R$ 25 milhões teriam sido jogados pelo ralo na construção do posto fiscal de Mimoso do Sul, que nunca saiu da fase de terraplanagem.
 
Do dia do “furo” para cá, os outros jornais do Estado, como não podia ser diferente, também entraram no caso e noticiaram o teor da ação de improbidade administrativa do promotor Dilton Depes contra o ex-governador Paulo Hartung e companhia. 
 
Na sexta-feira (15), Hartung usou os jornais para fazer sua defesa. Nas edições do fim de semana, foi a vez do governador Renato Casagrande sair em defesa do antecessor. Entre outras argumentações para desqualificar a denúncia de Depes, ele chegou a dizer que o Ministério Público, no caso o promotor, havia “passado de todos os limites”. 
 
Pois bem. Hoje, segunda-feira (18), primeira sessão da Assembleia após o caso vir à tona, havia uma expectativa muito grande para saber como os deputados tratariam a questão. Mesmo porque, para quem não se recorda, foi o deputado Gilsinho Lopes (PR) que levantou a polêmica do posto de Mimoso após ler reportagem no jornal A Tribuna – primeiro veículo a denunciar o escândalo em setembro de 2012. 
 
O republicano chegou a exigir a convocação do então secretário de Fazenda José Teófilo à Assembleia para explicar o desperdício do dinheiro público enterrado numa obra inconclusa que sangrou R$ 25 milhões dos cofres do Estado. 
 
Estranhamente, Gilsinho não se pronunciou sobre o caso nesta segunda-feira. Ficou até parecendo que não foi ele quem fez denúncia na Casa a partir da reportagem publicada em A Tribuna. Na época, ele parecia tão indignado... O que será que houve? 
 
Quem acabou quebrando a “lei do silêncio”, para variar, foi o deputado Euclério Sampaio (PDT). Justiça seja feita, um dos únicos que tinha coragem de questionar o então governador Paulo Hartung na Assembleia.
 
O pedetista lembrou aos colegas que em 2007 já havia pedido informações sobre a vergonhosa obra, mas que nunca fora atendido pelo governo Hartung. Pudera! Afinal, o que eles iriam dizer ao deputado? 
 
O incômodo registro de Euclério, ao questionar as obras, fez muitos deputados se virarem na cadeira à procura de uma posição que os tornassem imperceptíveis. Na verdade, eles não sabiam muito bem o que fazer ou dizer. Até que Gildevan Fernandes (PV), que muito deve a Hartung, criou coragem e saiu em defesa do ex-governador. O ex-prefeito de Pinheiros disse que denúncia de improbidade não significa culpa. 
 
Não era bem esse discurso que a população esperava de um “representante da sociedade”. A exemplo de Euclério, que cobrou explicações, esperava-se que os deputados saíssem em defesa dos interesses do cidadãos e não do ex-governador. Se Hartung necessita de defesa, que contrate um bom advogado. O deputado deveria estar ali para defender os interesses do povo.
 
A obrigação dos deputados é zelar pelo dinheiro público. Eles deveriam ter se inspirado nas palavras do promotor para questionar o ex-governador e seus aliados: “Enquanto os cidadãos do Estado do Espírito Santo padeciam nos superlotados chãos dos corredores dos hospitais públicos pela ausência de leitos hospitalares, a criminalidade assumia proporções assustadoras como decorrência, dentre outras causas, da falta de investimento em segurança pública e recomposição do reduzido quadro de policiais civis e militares, presos eram encarcerados em contêineres (celas metálicas) face à inexistência de vagas nos presídios do Estado, o nível da educação pública Estadual não conseguia situar-se sequer dentro do já baixo índice médio nacional, em consequência também, dentre outros fatores, dos baixos salários dos profissionais da educação, os requeridos torraram cerca de vinte e cinco milhões de reais numa obra sem qualquer relevância para a população”, disse o promotor na ação. 
 
Mas seria muito otimismo esperar que os deputados cobrassem a apuração rigorosa dos fatos denunciados e pedissem a punição dos responsáveis. Depois os deputados levantam a voz, sem razão, para pedir mais respeito à Assembleia. 
 
O respeito se conquista naturalmente quando se trabalha com ética, compromisso e honestidade, características que, infelizmente, estão em falta na Casa, que está dividida entre a subserviência e o rabo preso, salvo raríssimas exceções.  

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