Quinta, 25 Abril 2024

Trocando as bolas

 

O governador Renato Casagrande está indo longe demais para honrar os acordos políticos firmados com o ex-governador Paulo Hartung, na ocasião da campanha que o elegeu chefe do Executivo estadual em 2010. Em pelo menos três episódios recentes, Casagrande pôs o peito na frente, arriscando a própria imagem, para proteger o ex-governador e seu grupo, sempre em detrimento de interesses do Estado.
 
Para não contrariar o diretor-presidente da Companhia de Saneamento do Espírito Santo (Cesan), Neivaldo Bragato - um dos homens mais fiéis do ex-governador -, Casagrande garantiu a ampliação do contrato da Cesan com Delta Construções. A empresa, como todos no Brasil sabem, está sendo investigada por suspeitas de tráfico de influência no poder público e de ligações com o contraventor Carlinhos Cachoeira, alvo da CPI do Cachoeira.
 
Em abril deste ano, o governo do Estado confirmou o pagamento de R$ 8,4 milhões à Delta pela prestação dos serviços de manutenção de redes de esgoto nos municípios de Vitória, Serra e Fundão, como queria Bragato. 
 
Em seguida, Casagrande decidiu segurar outro temerário rojão de seu antecessor: a farra dos incentivos de fiscais. Para sangrar os cofres públicos e beneficiar as empresas, Hartung tratou a farra dos incentivos como uma moderna política capaz de assegurar o desenvolvimento do Estado. 
 
O governador Casagrande manteve a política de incentivos fiscais iniciada na gestão anterior. Uma das favorecidas foi a Ferrous Resources - apontada como suposta beneficiária de informações privilegiadas e operações de “lavagem de dinheiro” no governo Hartung, no escândalo da compra e venda de terrenos em Presidente Kennedy. A Secretaria de Fazenda, no entanto, “escondeu” o nome da Ferrous da listagem de deferimentos concedidos pelo Estado para tentar manter incólume a imagem do governador, que queria ajudar Hartung, mas não queria se expor demais.
 
A terceira e mais recente ação para blindar Hartung e seu grupo se refere à insistência do governador em manter o secretário de Justiça Ângelo Roncalli no cargo. Curioso é que o próprio delegado que comanda a operação (Pixote), que investiga o esquema de corrupção instalado no Instituto de Atendimento Socioeducativo do Estado (Iases), autarquia vinculada a Roncalli, afirmou que a ordem para iniciar as investigações partiu do próprio governador.
 
Ora, se foi o próprio governador quem ordenou a criação de uma força-tarefa para apurar o esquema de corrupção na autarquia, que inclusive já envolveu o secretário de Justiça no esquema, por que Casagrande precisa aguardar o parecer do Ministério Público Estadual para decidir se mantém ou não Roncalli no cargo? Ele não confia nas informações da própria força-tarefa que ele mesmo criou?
 
Para falar a verdade, se a permanência não fosse fruto de um acordo político, Casagrande não teria, com toda a certeza, mantido à frente da Justiça um secretário que levou o Brasil e o Espírito Santo na corte da ONU em função das graves denúncias de violações de direitos humanos nos presídios capixabas. O vexame de expor o Estado brasileiro perante a comunidade internacional, por si só, já dariam motivos de sobra para barrar a permanência de Roncalli no seu governo. Mas o governador ainda insiste em mantê-lo. 
 
Esses três episódios evidenciam que Casagrande está pririzando os interesses políticos de Hartung em detrimento dos interesses do Estado capixaba. Além de estar trocando as bolas, Casagrande acredita que a sua trajetória ilibada na vida pública lhe confere estofo suficiente para segurar todas essas bombas que foram armadas pelo seu antecessor e ainda sair ileso. 
 
O problema é que os estilhaços podem surpreendê-lo. Se isso acontecer, será difícil recompor sua imagem a tempo de entrar na corrida em 2014 com chances de vencer. O eleitor, com toda a certeza, não o deixará passar incólume a tudo isso. 

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