Para tudo que entra de novo, alguma coisa velha tem que sair

Uma velha tia cultivava o saudável hábito da troca – para tudo que entra de novo, alguma coisa velha tem que sair. Um vestido ou um sapato, uma panela ou uma jarra para a mesa da sala: se ganhasse ou comprasse um novo, o velho seria jogado no lixo ou doado a quem dele precisasse. Além de eliminar os ácaros, o entra-e-sai mantinha a casa mais leve e fácil de limpar. E ela não inventou a roda – já estamos tão acostumados com as inovações que a ciência e a tecnologia nos presenteiam a cada dia que nem percebemos que, quando algo de novo aparece, algo a que já estávamos acostumados vai ser jogado no lixo.
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Mais às vezes essa troca involuntária nos beneficia: quem iria continuar esquentando a água do banho no balde ao invés de instalar um chuveiro elétrico? Ou escrever essa coluna com caneta-tinteiro? A tia punha uma jarra com água filtrada na janela durante a noite para ter água fresca no dia seguinte – no interior do Espírito Santo ainda não existia geladeira. Quando comprou uma, jogou o balde fora. Mas perdemos outras coisas com essa troca, e nem percebemos.
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As moedas estão em acelerado perigo de extinção. Quantas você tem na bolsa? O cartão de crédito facilitou nossas compras, desde que pagos em dia. Mas em raros momentos é preciso pagar com as chamadas cédulas monetárias: o velho papel-moeda que valia tanto quanto ouro em pó – e lá vem moedinha no troco. De repente me dou conta de que tenho muitos potes pela casa recheados de moedas que ninguém quer receber. No entanto, apesar de relegadas ao fundo dos armários, elas mantêm seus valores intrínsecos, embora escassos. Mas não se diz que a união faz a força?
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Imbuída de espírito utilitário, reúno minhas moedas e me dedico à árdua tarefa de separar e contar todas elas. Cor prata: as maiores valem 25 centavos, as do meio valem cinco, e as pequenas valem 10 – uma inversão de valores. A de cobre, menor de todas, é a indesejada das gentes: ninguém pega se deixar cair no chão. Vale um centavo, ou seja, você precisa de 100 delas para pagar o pirulito de um dólar. Alguns usam na decoração, misturando no cimento do piso ou no barro da parede – dão um visual bonito.
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A moda, porém, é mantê-las em grandes jarros onde ficarão até o fim dos tempos. Os bancos aceitam todas elas sem distinção de tamanho ou cor, mas quem entra no banco se pode usar o caixa eletrônico? Separei minhas moedas por valor e vou para a loja e um dolar em horário de pouco movimento e onde tudo custava um dólar…encho o carrinho e me dirijo ao caixa mais próximo. A atendente me olha de cara feia – Não aceitamos moedas. Depcionada, vou para o supermercado e pego um frango assado para o almoço: $ 7.00.
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Posso pagar com moedas? Pergunto, e a assistente sorri, Claro meu bem, aqui só não pode sair sem pagar. Ela tira uma toalha da gaveta, joga minhas moedas em cima e começa a contar…a fila vai se esticando e ela avisa – Procurem outro caixa, isso aqui vai demorar! Enquanto ela pacientemente ela separa e conta, corro para recolher mais alguns ingredientes para melhorar o almoço…e ela ainda me dá 20 dólares de troco em notas novinhas! Quem disse que atendente de supermercado não tem coração? Amanhã volto lá com mais moedas…

