Quinta, 02 Mai 2024

Um fim de semana no paraíso

Esses gigantes do mar são acusados de poluir as águas antes límpidas do Caribe, além de explorar a mão de obra barata da região
Com três caravelas Colombo chegou às Bahamas, um feito ainda hoje comemorado mundo afora, com direito a feriados. Tempos difíceis então, com escassez de alimentos, escorbuto, malária. Meses navegando o mar tenebroso cheio de mistérios, enfrentando sereias sedutoras e índios hostis, provavelmente já adivinhando o que estava por vir. Esse ousado argonauta não imaginava que, alguns séculos depois, o mesmo mar oceano que ele desbravou seria o paraíso dos navegadores modernos.

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No embalo dessas mesmas ondas de incrível cor azul-turquesa, embarco em um cruzeiro no Mar do Caribe para um fim de semana no paraíso: sol e mar calmo, vento brando e música caribenha. Com tantos coqueiros, só faltou água de coco. Mas não estou sozinha e havia filas para tudo: o "Liberty of the Seas", um dos muitos gigantes da Royal Caribe, abriga em seus doze andares 3.600 passageiros, além dos tripulantes, entre eles alguns brasileiros. Na disputa pelo mercado, as grandes empresas marítimas têm suas próprias ilhas, que compram e passam a ser território americano.

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Ondas agitadas, balanço do mar? Coisas do passado. O navio oferece diversão para todas as idades e estava cheio de crianças. A quantidade de comida daria para eliminar de vez a fome na África. E nem é o maior navio de turismo do mundo - a mais nova aquisição da empresa tem capacidade para acomodar, alimentar e distrair 7.600 turistas e 2.300 tripulantes. O povo quer se divertir, e esses gigantes do mar oferecem de tudo para todos, inclusive poluição e exploração da mão de obra barata da região. Ou a história repete a si mesma.

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A chegada de Colombo na região iniciou também a tragédia dos descobrimentos: os Tainos, primitivos moradores da região, foram rapidamente escravizados e dizimados pelas doenças trazidas pelos conquistadores. Mais tarde o próprio Colombo foi preso por abusos na administração das então chamadas Índias Ocidentais. Mas acredite se quiser: graças às suas ondas rasas, que originaram o nome Bahamas, esse é o terceiro país mais rico das Américas, atrás apenas dos Estados Unidos e Canadá. Acho que é o que recebe mais turistas também.

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Esse intenso turismo marítimo produz toneladas de lixo que precisam ser despejadas em algum local. E surge o impasse: as 700 ilhas do arquipélago das Bahamas querem receber essas alegres levas de consumidores, mas nenhuma quer aceitar o lixo que elas deixam para trás. A Royal Caribe tem projetos sofisticados como o Save the Waves - Salve as Ondas - que recicla ou limpa quase tudo que jogam no mar. E a redução no uso de plásticos - copos de vidro, pratos de louça, talheres de metal. Quadros de anúncios feitos com rolhas. Canudinhos só de papel, e apenas se forem solicitados. As latas de lixo não são forradas com sacos plásticos.

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