Sexta, 19 Abril 2024

Um furacão chamado Wanda

 

Tão anunciado e monitorado, Isaac não compareceu, pelo menos na minha porta. Ainda bem, mas mesmo assim deu trabalho. Os furacões, tão em moda há poucos anos atrás, andam escassos e não deixam marcas por onde passam, a não ser pela perda de uma ou outra palmeira. Pela abundância de verde em Miami, as que eles levam não fazem muita falta, mas não se pode deixar de filosofar - quantas mais teríamos se de vez em quando eles não podassem a área?
 
Tal como acontece quando a visita se anuncia com antecedência, arrumamos a casa, seguindo as longas listas do que-fazer e não-fazer: Colocar proteções em portas e janelas, armazenar água e alimentos não perecíveis, dinheiro vivo no bolso, não deixar objetos soltos do lado de fora, etc. Tal como os pássaros, os bebês captam a queda de pressão atmosférica e podem chegar mais cedo; nos últimos meses de gravidez, as grávidas geralmente se abrigam nas maternidades.
 
É isso também que acontece com os pássaros. A queda brusca da pressão barométrica os informa da chegada dos furacões muito antes do NOA dar o primeiro aviso, e instintivamente eles procuram abrigo. As formas de enfrentar o problema variam. Os grandes pássaros voam na frente da tormenta, flanando nos ventos dianteiros que elas deslocam. Os que não conseguem voar tão rápido procuram abrigo fora do vento e da chuva.
 
As patas das aves têm músculos especiais que fazem suas garras se prenderem firmemente ao tronco das árvores. Isso as mantém firmes durante as ventanias e tempestades, e quando dormem.
 
Na verdade, ao contrário de nós, elas precisam fazer esforço para se soltarem e não para ficarem presas. Nos furacões, ao invés de fazer força, elas só precisam relaxar. Já os pássaros marinhos voam para a terra.
 
Alguns pássaros são levados pela tormenta e carregados por longas distâncias. Ficam presos no olho do furacão, que se torna uma espécie de proteção, pois ali nada acontece. É o olho do furacão que arrasta os pássaros para longe, não o vento. Encontrados a grandes distâncias de seus habitats, são chamados aves de furacão, e são a alegria dos observadores de pássaros, por se tornarem raridades.
 
Para compensar tantos preparativos desnecessários, Isaac nos deu a segunda-feira de presente: bancos, escolas e repartições públicas não funcionaram. O comércio, que não gosta de feriados, escancarou as portas, mas pouca gente ousou sair de casa. Chuvas, ventos e alagamentos provocaram muitos acidentes.
 
Na terça-feira a vida voltou ao normal. Até o próximo, que vai se chamar Joyce. A lista de nomes é feita anualmente em ordem alfabética desde 1953, com um rodízio de seis listas. Essa lista só muda quando aparece um furacão tão devastador que seu nome é retirado e substituído. Assim, não haverá outro Katrina. Houve um furacão Wanda em 2009, e outro virá em 2015. Bonzinho, prometo.

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