Surpresas e maravilhas das vivências no Canto da Arara
O mundo está repleto de surpresas e maravilhas… No pequeno lugarejo chamado Canto da Arara a água da fonte ficou contaminada – um crime ocorreu nas imediações e os moradores foram se afastando aos poucos, os mais jovens primeiro, em busca de aventuras na vasta seara desse mundo. Depois foram-se os adultos, ficando apenas os muito velhos e as crianças. Os velhos morreram, e sem ter quem os instruísse e orientasse, os pequenos pararam de crescer. A vila sem água virou terra de crianças, que se alimentavam do que encontrassem e fosse macio de mastigar.
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O mundo está repleto de surpresas e maravilhas. Índios vivem nus nas florestas, sem jamais terem visto luz num poste ou fogo sob um pote de alimento. Nos altos do Himalaya vivem no gelo, nas areias do Sahara vivem sob calor intenso durante o dia, frio cortante durante a noite. Os peixes vivem na água e os que ganharam asas dominam o infinito. O homem não vive na água nem no ar, mas aprendeu a construir mecanismos para superar essas deficiências e transpor obstáculos.
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Olhai as aves no céu e os lírios nos campos… e no entanto nos cobrimos de sedas e lãs, chapéus e bolsas de grife. Óculos de grau, injeção para emagrecer, dietas e academias para manter a boa forma, cirurgia para disritmia cardíaca e hemodiálise para diabete. Maravilhas da ciência moderna, sem tudo isso e tudo mais a expectativa de vida voltaria ao tempo das cavernas. Hoje há pessoas que chegam bem aos cem anos, e aos noventa muitos se sentem jovens – poucos, mas os índices sobem a cada ano.
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Televisão e cinema, histórias e lendas transmitidas no papel impresso. Internet, Google e Uber, mensagens de texto, vacinas contra quase tudo, comida congelada, prazos de validade, lojas de departamento, escolas e cartilhas. ódio, inveja, intolerância, ganância… Quem tem muito sempre quer mais, quem nada tem morre de fome e frio. Os ensinamentos dos sábios e as parábolas dos santos caem em terreno estéril – o mundo se transformou num deserto vazio de bondade!
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As crianças que não desenvolveram a arte de crescer também não aprenderam a adoecer, a odiar e a discriminar. Não conhecem orgulho, preconceito, sede de poder, autoritarismo. Tudo que têm repartem – o que é de um é de todos e mesmo o pouco pode ser dividido e o bem multiplicado. Dos que partiram já se esqueceram, pois deles esqueceram também. O mato cresceu nos caminhos outrora riscados no chão de terra, e mesmo se quisessem, os que ficaram não saberiam como refazê-los. Mas não querem.
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Essa não é uma fábula triste, mas de esperança e resiliência. O Planeta X foi atacado por uma epidemia – toda a vegetação morreu, toda a água secou, e nem toda a tecnologia acumulada durante milênios o salvou da destruição. Mas lá no Canto da Arara, longe de tudo e todos, a vida continua do mesmo jeito.
