Segunda, 06 Mai 2024

Unanimidade em risco

Durante oito anos, o Espírito Santo viveu sob a exegese do arranjo institucional idealizado pelo ex-governador Paulo Hartung (PMDB). Sob o pretexto de que as “pessoas de bem” precisavam lutar contra um inimigo comum – o crime organizado –, Hartung deu forma ao arranjo que alinhou as principais instituições sob sua batuta.

 
Tribunal de Justiça, de Contas, Ministério Público e Assembleia Legislativa, além de um grupo cativo de empresários (ES em Ação), passaram a ter importância estratégica nesse arranjo, que também definiu de 2003 a 2010 quem seria alçado ou preterido do poder. 
 
Exemplo mais vivo desse arranjo foi a manobra de Hartung para tirar o então vice-governador Ricardo Ferraço (PMDB) da disputa ao governo do Estado e alçar Renato Casagrande como candidato do Palácio Anchieta. “Sacrifícios” que precisavam ser feitos em nome do arranjo - que o diga o hoje senador Ricardo Ferraço.
 
Foi embalado por esse modelo que defendia acima de tudo a manutenção da unanimidade, que Casagrande assumiu o governo em 2011. Após dois anos de mandato, no entanto, Casagrande vem enfrentando dificuldades para manter a unanimidade e alguns conceitos do arranjo construído por Hartung. Alguns porque o socialista tem um perfil muito distinto do antecessor, e não se sentiria à vontade consigo mesmo se conduzisse o Estado como um déspota. Não combina com Casagrande.
 
O socialista, muito mais receptivo aos preceitos democráticos, devolveu a autonomia às instituições. Porém, nunca quis abrir mão da unanimidade, considerada como passaporte rumo à reeleição. 
 
Entretanto, sinais de fissuras no arco da unanimidade já começam a ser visíveis. O desgaste da Assembleia, com a reeleição de Theodorico Ferraço (DEM) – mesmo estando sob suspeição na Operação Derrama – expôs a instituição perante a opinião pública. 
 
De carona no desgaste, o presidente da Câmara de Vitória, Fabrício Gandini (PPS), não pensou duas vezes para jogar pedras no Legislativo estadual, chamando os deputados de omissos. As declarações irritaram os parlamentares, que usaram quase toda a sessão dessa segunda-feira (11) para rebater as críticas do vereador. 
 
Na sessão desta terça-feira (12), o clima de tensão permaneceu pairando no plenário da Casa. Os deputados José Esmeraldo (PR) e Roberto Carlos (PT) protagonizaram um acalorado bate-boca que quase foi resolvido no braço, não fosse a interferência dos colegas tentando apaziguar os ânimos mais exaltados. 
 
Antes disso, o próprio Esmeraldo já havia “cuspido marimbondos” ao criticar a saúde. Ele pedia com todas as letras a cabeça do secretário Tadeu Marino, mostrando que o novo “carro-chefe” do governo – os investimentos na saúde – está em xeque.
 
O clima descompensado na Assembleia é mais um sintoma de que a unanimidade está sob risco. Soma-se a isso a profusão de palanques na disputa à presidência que podem mudar completamente o cenário político nos estados nas eleições de 2014. 
 
A disputa apertada “lá em cima” pode dificultar as articulações do PSB de Casagrande com o PT e PMDB, o que colocaria em risco a estrutura do tripé da unanimidade. 
 
Sem contar que Paulo Hartung e Ferraço correm por fora no processo eleitoral de 2014. Imprevisíveis e ardilosos, eles podem minar o projeto de reeleição de Casagrande. 
 
Para isso, basta que Paulo Hartung cruze ileso o mar revolto de denúncias que se prenuncia sobre ele. Se cruzar, o ex-governador pode se sentir inteiro o bastante para enfrentar um Casagrande fragmentado pelo fim da unanimidade. 

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Terça, 07 Mai 2024

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