Sábado, 27 Abril 2024

Unir, organizar e mobilizar

Buscando informações sobre o fortalecimento da democracia e a construção de um projeto democrático e popular que consiga valorizar a classe trabalhadora, gerando empregos, renda e condições dignas, que entendo ser o melhor meio de promover a igualdade social, encontrei boas reflexões e análises.

Segundo o Centro de Análise da Sociedade Brasileira (CASB), com o objetivo de aprofundar o entendimento sobre as mudanças na sociedade brasileira para produzir diagnósticos e auxiliar nosso povo trabalhador na tarefa de despolarização da sociedade e das instituições; e com o compromisso dos trabalhadores na unificação e organização do campo democrático popular, foi organizado um Grupo de Trabalho (GT) para ampliar a escuta em direção aos especialistas e pesquisadores (da academia, de movimentos sociais); e também levantar dados da opinião pública.

No mês de abril de 2023, o GT promoveu um debate sobre como as mudanças na configuração da classe trabalhadora brasileira impactam na cultura política de milhões de brasileiros e brasileiras. Entre as expositoras, estavam Adriana Marcolino, técnica do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócios Econômicos (Dieese), e Rosana Pinheiro Machado, antropóloga e professora titular da University College Dublin.

Segundo Adriana Marcolino:

No País, há 175,1 milhões de pessoas em idade ativa (PIA -pessoas com 14 anos ou mais). Cerca de um quinto da população (19%) está subutilizada.

Os trabalhadores por conta própria (com ou sem CNPJ) somam 21,8 milhões.

Entre setor público e privado, somam-se 30,6 milhões de brasileiros com carteira assinada, apenas 31%.

Sindicalizados não somam11% da classe trabalhadora brasileira.

A reforma Trabalhista de 2017 estabelece mecanismos de negociação individual e procura enfraquecer a negociação coletiva.

41,8% dos trabalhadores informais estão totalmente expostos e descobertos de proteções legais.

As formas de trabalho que mais crescem no mundo são os trabalhos temporários, em tempo parcial, intermediados (subcontratados ou terceirizados) ou o trabalho por conta própria precário e subordinado.

O número de trabalhadores por conta própria cresceu 5 milhões entre 2012 e 2022 (de 20,5 para 25,3 milhões).

O trabalho por conta própria é mais sensível à condição da economia e registrou movimentos bruscos de desengajamento de trabalhadores ao longo dos 10 anos ("acompanhando" os momentos econômicos do país).

Nestes dez anos houve redução do seu rendimento mensal médio: de R$ 2.013,00 para R$ 1.991,00. Além disso, a renda média revela que a experiência da precarização articula elementos de gênero e raça.

O trabalhador por conta própria, em geral, não tem uma ocupação única. Ele transita entre a formalidade e a informalidade, podendo ter mais de uma ocupação.

Pesquisas qualitativas mostram que o trabalhador autônomo/por conta própria pode tender a uma defesa do trabalho informal sem, necessariamente, almejar o vínculo CLT.

As razões giram em torno de:

Percepção de cumprir um horário mais flexível que no regime CLT "aqui, não tem que bater ponto".

Percepção de renda mais elevada que o valor do salário-mínimo.

Percepção de ausência de figura hierárquica, "chefe", controlando horários, hábitos e comportamento.

Os relatos encontrados em campo apontando as "vantagens" do trabalho por conta própria são, muitas vezes, associados a relatos de assédio por parte do superior hierárquico no ambiente de trabalho. O que mostra que a negação não é em direção ao trabalho em si, mas às condições em que o trabalho formal se dá. Além disso, entre o público investigado – trabalhadores de baixa e média renda das periferias, ser autônomo e/ou empreendedor confere status, conferindo a estes trabalhadores (mesmo que precarizados) uma sensação de autoestima.

A antropóloga Rosana Pinheiro Machado alerta:

A nova economia digital via plataformas (delivery, grupos de uberizados, entre outros) e redes sociais de venda de produtos e serviços (como Instagram) impulsionam esses trabalhadores ao universo digital da extrema-direita (grupos, influenciadores, canais, etc.). Muitos vão buscar nas redes dicas e orientações para progredirem suas atividades econômicas.

O "trabalhador em busca de uma vida melhor" é impulsionado pelo algoritmo a uma rede de influenciadores motivacionais (dão dicas sobre "como ser empreendedores", "como chegar ao primeiro milhão"); e de religiosos divulgando a teologia da prosperidade; entre outros perfis que estão alinhados ao conservadorismo de direita – estima-se que 88% dos influenciadores brasileiros são alinhados ao conservadorismo de direita. Quanto mais inseridos no mundo digital, mais inclinados ficam a aderir a projetos autoritários.

Neste contexto, a desinformação atua no "medo" desses trabalhadores por aplicativo perderem sua fonte de renda. Notícias como "Lula vai expulsar Uber do Brasil" repercutem muito entre os motoristas e entregadores.

Mesmo que se sintam frustrados e desassistidos, organizam e canalizam a revolta no sentido inverso ao problema inicial. Num processo de "Revolta Ambígua", o problema não é a exploração da plataforma e a perda de direitos, mas a "esquerda como politicamente correto e contra a família".

Com essas informações, se faz necessário realizar mais debates, estudos e pesquisas sobre a classe trabalhadora e suas diversas categorias no Brasil, buscando identificar as brechas dentro dessa nova realidade para a construção de um diálogo amplo, que considere além das questões de classe trabalhadora, também as de etnia e gênero nesta busca de igualdade. sendo exemplo de lutas e conquistas para todo o mundo.

Uma sociedade que se propõe a ser democrática e popular precisa ouvir os diversos setores para construirmos um projeto de vida que inclua todos os cidadãos e cidadãs no seu orçamento, na sua economia, pois só assim construiremos uma sociedade de iguais, sem preconceitos e discriminação de qualquer natureza.
Unir, organizar e mobilizar, para construirmos a sociedade que merecemos.

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