Segunda, 29 Abril 2024

Análise: 'A Datilógrafa'

Análise: 'A Datilógrafa'
A moda sempre ditou as regras baseando-se na estética mais que nos conceitos. No ápice desta, finalizada a Guerra Mundial, a disputa pela atenção mostra claramente uma dicotomia entre o mundo antigo, Europa, e o mundo novo, ganhador da guerra, a América.
 
Essa dualidade percorre todo o filme A Datilógrafa, pontuando os acontecimentos na pequena localidade da Baixa Normandia, antes de ganhar ares mais globais.
 
A jovem Rose Pamphylle (Deborah François) vive num pequeno povoado e sonha entrar na modernidade e sair de sua pacata vida. Utilizando uma velha máquina de datilografia, ganha agilidade e logo um posto de secretaria na capital da província. 
 
Isso ainda é pouco para quem pode ganhar o campeonato de datilógrafa mais rápida. Para tanto consegue o apoio de seu chefe Louis (Romain Duris) que aos poucos vai ganhando mais espaço em sua vida.
 
 
Numa França pós-guerra, nada mais natural que a influência americana, o modo de ser, as tecnologias que ganharam mais espaço no dia-a-dia. A independência feminina imposta pela guerra é o toque francês, além da extrema dedicação à moda. Porém se a mulher no moderno Estados Unidos fica em casa rodeada pelos eletrodomésticos novos, na França ela se moderniza e ganha autonomia familiar. 
 
O filme tem a estética americana do american way of life, assim como a ironia dos diálogos, mas a moda constante em cada cena remete à cena francesa. A direção de arte impecável, reproduz fielmente a época, sendo um filme dos anos 50, seus gráficos, cores e toda a ambientação utilizando tons pasteis que ampliam a inocência da trama, que funciona quase como uma fábula para crianças comparado aos filmes atuais. 
 
A volta aos padrões antigos, a simplicidade da história, contrastam com os valores atuais de competição, ação constante; ruídos e contrastes marcantes dão à forma de agir e aos singelos momentos ares de pieguice e monotonia, mas reside aí a sutileza do filme.
 
Machista como a época, incorpora elementos de mudança, com a protagonista lutando por sua própria conta contra os preconceitos, mas cai na armadilha do chefe, que leva boa parte da história com seus recalques  psicológicos.
 
O longa de estreia do diretor Régis Roisard, mostra o cuidado excessivo na direção de arte e nas referencias cinematográficas do mesmo, recaindo em obras da época de ouro do cinema estadunidense, mas com um ligeiro toque francês na concepção do filme, conforme um personagem mesmo diz: “o mercado é americano, mas o amor é francês”.
 
Serviço
A Datilógrafa (Populaire, França, 2012, 111 minutos, 14 anos) 
 
Cine Jardins - Shopping Jardins: Sala 2. 16h50.

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