Segunda, 06 Mai 2024

Análise: ???Além do Infinito Azul???

Análise: ???Além do Infinito Azul???

 

O aumento de informação parece inibir a reflexão e a memória. As novas tecnologias com seus códigos automatizados já se responsabilizaram por estas questões.  A verdade passou de uma busca metafísica a um comando binário. 
 
Dessa forma multiplicam-se as possibilidades de encontrar uma nova percepção das coisas. Com isso, descobrimos várias verdades, umas mais subjetivas que as outras.
 
Além do Infinito Azul parte de uma história relatada por um alienígena, advindo de Andrômeda, que aterrissou no planeta no ímpeto de refundar seu planeta destruído, milhares de anos-luz atrás. 
 
Mostrando realidades paralelas entre ciência e a possível entrevista aos extraterrestres, vemos uma realidade baseada em características da sociedade de consumo. O filme de 2005 somente agora chega às salas de Vitória.
 
A partir de imagens de arquivo da Nasa e de entrevistas com cientistas e atores, o diretor Werner Herzog volta a um de seus temas preferidos, a subjetivação da realidade e o confronto com a natureza. 
 
Sendo um dos diretores mais românticos da história, apresenta um ser humano indefeso diante do sublime que o destroça, a natureza que impele o homem a buscar uma forma de adaptar-se sempre tropeça e termina sua epopeia solitário e abatido frente a monumentalidade do natural. 
 
Assim ocorre com Aguirre, A Cólera dos Deuses (1972), Fitzcarraldo (1982), Fatta Morgana (1971), Lições da Escuridão (1992), entre vários outros do mesmo diretor.
 
Com a mesma sutileza poética, Herzog obtém imagens desconhecidas do grande público, dessa vez figuras subaquáticas e de arquivos secretos, e com elas propõe uma visão distinta, geralmente mais dilatadas, dando um tempo de percepção maior. 
 


Sempre infiltrando num campo mais reservado ao vídeo, o diretor desconstrói a narrativa, e a visibilidade da imagem, aproveitando-se de desfoques e de imagens abstratas, ampliando as possibilidades do cinema atual tão marcado pela narrativa conflitiva. 
 
O diretor advindo do documentário propõe essa visão própria de uma nova realidade, jogando com a ficção, extrapolando a realidade em busca da poesia. A falta de conflito, porém, torna o filme cíclico, remetendo as mesmas questões de início ao fim, prendendo-se somente na estranha beleza das imagens e numa sutil ficção sem maiores contrastes para um público habituado a grandes emoções. 
 
O diretor insiste no sublime como forma de desprender o espectador de sua inércia cotidiana, mas parece esquecer-se que o afã tecnológico tende a suprimir qualquer forma de abstração sensitiva. 
 
A mesma tecnologia que possibilita obter imagens cada vez mais originais (pinturas rupestres nunca vistas, cotidiano de ursos selvagens, interior de montanhas de gelo inóspitas) é a mesma que limita a possibilidade de usar tais imagens na busca de um novo mundo, afinal qual a diferença entre uma imagem original captada por uma câmera ou uma criada por computador?
 
Serviço
Além do Infinito Azul (The Wild Blue Yonder, Alemanha/Áustria/França/Reino Unido, 2006, 81 minutos, 14 anos) 
 
Cine Metropolis: 16h.

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