Análise: ???Amor???
As histórias de amor são um gênero chave para o cinema comercial. Entretanto, algumas se conformam com elementos menos comuns, sejam aspectos estéticos, técnicas de imagens ou mesmo roteiros ou formas de contá-los.
Amor parte de uma premissa universal, mas vai de forma contrária à corrente pós-moderna do descartável que tudo digere em pouco tempo (segundo cientistas contemporâneos a “química” do amor não dura mais de três anos).
Anne (Emmanuelle Riva) e Georges (Jean-Louis Trintignant) são professores de música casados e aposentados há décadas que passam a vida em Paris. Contudo, o tempo continua a passar e apaga os momentos presentes até alcançar Anne que desenvolve uma paralisia cuja propagação se estende até a morte, enquanto seu marido faz de tudo para vê-la feliz.
Numa época racional e estética, o amor entre idosos não aparenta ter nenhuma relevância. Mas desta força surge o ponto débil de nossa época: um humanismo em baixa que escolhe os favorecidos pela maquiagem que põe e pelo poder que acarreta, mas o poder do amor reside justamente nesta falta de lógica, e requer muitas vezes uma relação de cuidado, de querer bem.
O tempo que tudo leva, se escorre pelos rasgos de memória, criando elipses que percorrem todo o filme, contrapondo-se assim às memórias sempre presentes de Georges, cujas histórias servem de alicerce para a sua amada.
Por outro lado, os planos-sequência, de simples gestos e olhares, cria um cotidiano que aos poucos se esvai. Este tempo estendido é a ampliação destes últimos momentos juntos, um instante dilatado onde só se percebe que o amor, assim como a beleza está nos pequenos detalhes, percebê-los é o que possibilita a ampliação desta força que une as relações.
Michael Haneke (Violência Gratuita) com seu estilo frio, consegue entrar na intimidade dos amantes e joga com situações limítrofes, provocando até onde pode chegar o amor entre duas pessoas, que vai além de aprovações sociais, moral, desejo e benefício próprio. Mostra assim que é justamente ao contrário: é na doação e no cuidado que reside a felicidade.
A estética do filme segue a realidade etária dos protagonistas: planos abertos e centralizados, bem longos, com cores frias cem qualquer preocupação com contrastes (buscando justamente esta fusão entre os que amam).
A música clássica tapa o vazio da existência que insiste em sair em algumas cenas, mas sem romper o elo entre os amantes e o tempo que aparece como o terceiro protagonista, materializando-se nos largos planos sem cortes.
O filme levou a Palma de Ouro em Cannes, o Globo de Ouro de Filme Estrangeiro e recebeu cinco indicações ao Oscar 2013: Melhor Filme, Filme Estrangeiro, Roteiro, Direção e Atriz.
Serviço
Amor (Amour, Áustria/França/Alemanha, 2012, 127 minutos, 16 anos)
Cine Jardins - Shopping Jardins: Sala 1. 21h15.
Cine Metropolis: 18h30.
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