Sexta, 03 Mai 2024

Análise: ???Amor Pleno???

Análise: ???Amor Pleno???
A estética passa a ser o bem mais intercambiável do planeta. Geradas por um racionalismo tecnológico, as regras da beleza apresentam padrões mercadológicos de consumo e atualmente entram numa lógica da automação, onde tudo é passível de reprodução baseado em algoritmos digitais. 
 
Desse modo imagens se multiplicam por paredes e outdoors (paredes criadas para mais imagens) com o mesmo intuito, vender o belo. Cada vez mais raro nessa sociedade imagética alguém conseguir subverter essa regra de beleza e inserir uma sensibilidade natural.  
 
Uma simples história de amor ganha contornos universais quando vista desde outros pontos de vista. Uma ruptura, traições e entregas completas, que permeiam todos os relacionamentos, em Amor pleno são vislumbrados a partir de um olho esteta, preocupado mais com a subjetivação da beleza do que com seu consumo.
 
Um casal em conflito que tenta permanecer junto. Idiomas e culturas distintas que permeiam memórias e momentos. O atual que recompõe-se e se recria na paixão e no convívio.
 
Câmera móvel, flutuando em todas as cenas, assim como a imagem, que muitas vezes retorna como um sonho. A narrativa que não prende-se ao linear, mas que flui baseando-se nas imagens, como pequenos núcleos de beleza existentes em cada momento da vida. Um olhar que capta cada movimento belo da existência.
 


Pessoas solitárias que passam pela vida se movem de um lado ao outro como uma viagem interminável, tecendo redes com a ressignificação do olhar. Desse modo a lembrança que habita não é a mesma realidade visível, há diversas formas de se manifestar, assim como outros pontos de vista.
 
Várias vozes, pensamentos, varias línguas, mas uma constante busca pelo amor; quando porém o silencio se faz presente, sem palavras que o descreva ou que o restaure, tudo uma questão de tempo e continuidade. O mesmo tempo que precede a existência, que não se registra enquanto vive porque depende da maneira de vivê-lo. Relatividade.
 
Amores plenos, mas não correspondidos. Que requerem dedicação e entrega, realizar escolhas, deixar uma parte de seu mundo conhecido para entrar no mundo do outro, que pode ser belo e terno, mas será um tempo distinto, um espaço alheio. Esse risco deve-se correr.
 
A fotografia marcada por um rigor estético em cada imagem é o ponto alto do filme,  buscando a redenção no sublime mesmo que encontrado em pequenas coisas do cotidiano. Auxiliada por escassas mas bem pontuadas músicas, provoca uma catarse estética.
 
O inexpressivo Ben Affleck encontra seu papel perfeito, de marido calado e ausente, auxiliado pela companheira Olga Kurylenko que participa da composição dos enquadramentos mais belos do filme.
 
O diretor Terrence Malick (Além da Linha Vermelha, 1998) acostumado a isolar-se da sociedade para buscar imagens oníricas, passa a produzir cada vez mais seguido assemelhando-se dessa vez ao filme anterior (A Árvore da Vida, 2011). A similitude de temas e imagens sugere um desdobramento da história, ou será que ele também parece ter descoberto as regras da beleza?
 
Serviço
Amor Pleno (To the Wonder, EUA, 2012, 112 minutos, 14 anos) 
 
Cine Jardins - Shopping Jardins: Sala 1. 16h55.

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