Quinta, 02 Mai 2024

Análise: 'Apenas o Vento'

Análise: 'Apenas o Vento'
Num mundo mapeado, onde tudo é registrado a cada passo, e cada território exige a institucionalização de um estado que controla seus habitantes, quem não se entra nesta lógica é dizimado. 
 
Por conta disso, populações inteiras nômades não encontram lugar no mundo, como no caso dos sarauís do norte africano, os curdos no norte da Turquia, os chechenos na Rússia, além os ciganos no Leste Europeu, só para citar alguns. Nem todos os povos conseguem um acordo mundial para delimitar um território dentro de um país alheio.
 
A cada semana famílias ciganas são mortas na periferia húngara. O dia-a-dia de uma delas é retratado, seguindo um suspense de poder ser a próxima vítima. A mãe que trabalha fora, subemprego, num país marginalizado da Europa. A filha estudante, alheia aos acontecimentos na própria escola. Indiferença aliada à xenofobia. 
 
O irmão mais novo que, vagando entre casas, consegue comida e amizades entre os seus. Entretanto em cada extraplano, pode estar o inimigo, que atua silenciosamente, o racismo.
 
Um filme extremamente silencioso, que tem um tempo próprio, alheio à vida normal que nos cerca, o tempo de um povo diferente, que não se apega à propriedade, que necessita ter quase nada para poder se mover mais. 
 
O movimento que dá a câmera, passeando com cada membro da família, instabilidade do plano, entrando muitas vezes em locais escuros e de difícil percepção. Mas não será essa uma realidade cigana?
 
As cores contrastantes que figuram em cenas mais abertas, ilustram essa outra visão, um outro caminho, que possui os que sempre caminham, que percebem as pequenas coisas, que se infiltram nas fendas da sociedade – a única via permitida a eles.
 


Um filme de denúncia social, sobre o extermínio cigano, que ganhou parte da agenda internacional nos últimos anos (principalmente na Romênia e na França), mas que logo foi abafado por ser uma minoria pobre e sem aliados.
 
O diretor Benedek Fliegauf (Ventre, 2010) sempre volta suas produções para as minorias, tentando mostrar um mundo esquecido. Dessa vez adquire um caráter quase documental para registrar a sociedade cigana, em seu impulso de sobrevivência. 
 
Os poucos diálogos, assim como as longas seqüências, criam essa atmosfera realística, mesmo que isso no caso do cinema contemporâneo sugira uma perca de público nas salas.
 
O filme ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim do ano passado, validando assim a temática que não se vê todos os dias.
 
Serviço
Apenas o Vento (Csac a Szél, Hungria/Alemanha/França, 2012, 101 minutos, 16 anos) 
 
Cine Jardins - Shopping Jardins: Sala 2. 21h15.

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