Terça, 07 Mai 2024

Análise: 'Aprendiz de Alfaiate'

Análise: 'Aprendiz de Alfaiate'
Numa época acelerada onde tudo depende de pouco tempo, tanto de produção como de consumo, até as relações humanas parecem entrar nesta lógica. Tudo consumido, tudo consumado, nada resta que não seja descartável. 
 
Alguns padrões de vida no entanto vão contra esta lógica da velocidade. Não seria a mesma lógica do amor? Como apaixonar-se sem o tempo necessário da contemplação e memoria, perder o tempo pensando no outro.
 
Arthur trabalha num pequeno atelier de costura com Albert (Albert Igual) um antigo alfaiate que lhe conta sobre os tempos da resistência e aventuras de sua época juvenil. Enquanto trabalham possuem um ritmo próprio de fabricação permeado pela palavra e pelas histórias.
 
Um dia Arthur (Arthur Igual) conhece a Marie-Julie (Lea Sevdoux), uma atriz irreverente e avessa às regras sociais. Investida do nomadismo e da velocidade contemporânea, está sempre viajando e atrasada para suas peças. A relação dos dois se faz então na memória, no palco ensaiando ou na máquina de costura, mas sempre com uma imagem do outro.
 
Desse modo criam um mundo à parte, fora do tempo e do espaço conhecido (tempo da linha e agulha, espaço cênico) e em seus encontros, assim como lembranças, surgem sempre em locais a ermo, mesmo quando estão no meio de seus respectivos trabalhos, abandonam tudo permanecendo juntos.
 
Um filme contrastante, onde a velocidade constante da vida contemporânea entra na oficina do alfaiate, onde todo tempo do mundo é banido, onde técnicas artesanais necessitam o tempo de gestação das peças.
 
A ausência de cores é discutida logo a princípio, onde o jovem alfaiate se pergunta porque a ausência de cores no mundo das roupas masculinas, onde somente os ternos em tons de cinza são utilizados. 
 


Cria-se assim um filme mais íntimo, sobre uma profissão cada dia mais rara e artesanal, assim como o próprio preto-e branco, algo que já não tem sentido num mundo digitalizado, feito de cores artificiais criadas por plugins autômatos próprios de programas de computação.
 
O ritmo é dado ao mesmo tempo pela suspensão do tempo nos encontros furtivos como pela correria dos tempos atrasados, que no fundo são frutos da mesma sociedade, uma que espera e contempla, mas que não pensa sobre o tempo perdido para realizar ações pré-programadas.
 
O diretor Louis Garrel estreia no mundo da direção tão familiarizado às formas que aparecem em suas atuações: o mundo da moda (Amores Imaginários, 2010), das belas artes (Um Verão Escaldante, 2011), mas sobretudo uma aura hypster (Os Sonhadores, 2003) onde a própria estética é a coisa mais importante. 
 
Seu filme entretanto não entra nessa lógica, permitindo-se ir de encontro à sociedade e a sua lógica contemporânea. Reflexo disso são seus personagens deslocados.
 
Um filme curto, que em seus 40 minutos mostra bem a que veio.
 
Serviço
Aprendiz de Alfaiate (Petit tailleur, França, 2010, 43 minutos, 12 anos) Drama. 
 
Cine Metropolis: 16h e 19h10.

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