Segunda, 06 Mai 2024

Análise: Entre o Amor e a Paixão

Análise:  Entre o Amor e a Paixão

O eterno tabu norte americano é colocado em xeque, e mesmo que numa produção independente ameaça o seio familiar. Com as matanças anuais de jovens e crianças em idade escolar, a vida já deixou de ser um valor intrínseco, assim como a ironia explorada em todas as séries de televisão, que minam todos os resquícios de moralidade, ou o excesso de publicidade que faze o que for necessário para aumentar as vendas. 

 
Tudo isso somado ainda não é o bastante para arremeter contra a fidelidade conjugal (será que o cerne é a própria Hollywood que vive desse sonho do eterno happy end romântico?).  
 


Entre o Amor e a Paixão traz um jovem casal, Margot (Michelle Williams) e Lou (Seth Rogen), casado há cinco anos, que passa por momentos de desconforto. Numa viagem de trabalho, ela conhece Daniel (Luke Kirby), um interessante tipo querendo aparecer, contudo não imaginaria que regressando fosse encontrá-lo vivendo bem próximo, na casa em frente. 
 
A partir daí fica uma sensação estranha de conviver com o perigo, cuja a porta da frente sempre está sujeita a apresentar, ou mesmo ao contrário, quando em simples saídas já há a possibilidade do encontro, muitas vezes premeditado, pelos dois.
 
Entretanto a traição não se manifesta, o clima entre os dois, sempre opostos ao seu relacionamento, com planos abertos e frios com o vizinho e fechados e quentes com o marido acentua esse contraste que impede a conclusão. 
 
Há uma gradual mudança de cores, a fotografia realiza uma incursão em planos desfocados, muito em busca da própria personagem, que não se encontra na mesma casa que seu marido e deve buscar essa realização fora. Da mesma forma, a utilização de vitrais na casa sugere um caleidoscópio constante que a cada mudança de dia possibilita uma nova visão, um quase encontro. 
 
A câmera pudica, sem planos ousados ou sensuais para o que prevê a trama, quando mostra o corpo nu, o faz de forma objetual, sem nenhuma sensualidade, da mesma forma que a traição se potencializa, em palavras, nunca visível. Faz-se necessária a ruptura previa para um possível encontro extraconjugal. 
 
Um filme romântico, que mostra o lado amargo das diferenças, o carinho nas pequenas coisas, que muitas vezes já passa despercebido, a rotina que perde seu encanto quando segue a monotonia e a previsibilidade dos atos, e o aparecimento do outro, trazendo a novidade, ainda é um forte empecilho na construção da estima familiar.
 
A diretora Sarah Polley (Longe Dela, 2007) escolhe um lado florido e kitsch de Toronto, que acolhe a história como se fosse um acontecimento cotidiano, um de tantos que expõe a metrópole, mas com um aconchego muito peculiar, a luz ambiental que cega é a mesma que ilumina os detalhes mais sutis, um passeio que revela novas miradas.
 
Serviço
Entre o Amor e a Paixão (Take this Waltz, Canadá/Espanha/Japão, 2011, 91 minutos, 14 anos)
 
Cine Jardins - Shopping Jardins: Sala 1. 19h. 

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