Quarta, 24 Abril 2024

Análise: Intocáveis

Análise: Intocáveis

 
O mercado cinematográfico se mostra muito mais maleável que anos atrás. Com o surgimento de novas tecnologias de gravação e sobretudo de reprodução (multiplicação de canais a cabo faltando programação, aparecimento de diversas mídias e canais internéticos) se mostra patente uma exponencial abertura de mercado, assim como uma maior democratização das produções locais. 
 
O cinema francês, por exemplo, mostra a cada ano uma pérola comercial que propõe a França como concorrente de Hollywood, ao menos em território local. A “moda” deste ano foi Intocáveis.
 
Phellipe (François Cluzet) é um aristocrata que busca um empregado que lhe cuide como uma pessoa normal. Mas ele apresenta um quadro mais complicado e após sofrer um acidente fica tetraplégico. Um jovem desempregado suburbano vai cruzar seu caminho, e lhe apresentar todo o lado marginal da vida. Dessa forma vão intercambiar elementos distintos de cada cultura (o jovem negro pobre e imigrante em contato com o velho rico branco francês).
 
Nada melhor para cativar o público: duas minorias que absorvem o que de mais sofrido há no mundo, preconceito racial, deficiência física, pobreza, imigração e se alegram com sua condição! Podem a partir daí viver da melhor e mais alegre forma possível!
 
Que maravilha é o cinema, ainda mais quando o que quer é atrair o público. O maior sucesso de bilheteria desde Amelie Poulain se deve à doação da renda aos deficientes franceses, mas também a qualidade politicamente correta da trama.
 
O roteiro bem amarrado (mesmo que tão apelativo) preenche de aventura uma vida tão limitada das minorias, na verdade a junção das partes formará uma dupla perfeita (o dinheiro e o gosto refinado do tetraplégico somado à energia e à força do outro) realizando assim um filme onde tudo é possível, uma vez que o dinheiro vai mais além de qualquer outra coisa (até um tetraplégico se diverte). Pura demagogia.
 
A correta fotografia divide os dois mundos tão didaticamente como o roteiro: um branco rico imóvel e o outro sujo, escuro e vivaz. Na verdade essa inter-relação se aplicará a tudo, pouco a pouco a imobilidade da câmera ganha agilidade, assim como a trilha sonora, mesclará música clássica ao rock n´roll clássico. Tudo de modo a agradar a gregos e troianos (chamando assim mais público).
 
Numa época na qual as minorias ganham cada vez mais voz (muitos já proclamam um mundo contra democrático, onde as minorias já tem mais espaço que a maioria democrática – calçada cidadã, cotas raciais, vocabulário) o filme mostra o lado humano, mas também o saber aproveitar-se das descapacidades.
 
O grande achado fica com os atores, especialmente com Omar Sy (Micmacs, 2009) que consegue subverter a ordem imperante destruindo qualquer possibilidade de ajuste social: mesmo sendo marginal não dá o braço a torcer para entrar no sistema, que seria muito mais fácil.
 
Serviço
Intocáveis (Intouchables, França, 2011, 112 minutos, 14 anos) 



Cinemark - Shopping Vitória: Sala 1. 19h30 e 22h. 

Cine Jardins - Shopping Jardins: Sala 2. 16h45 e 21h15. 

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