Análise: ???Paris-Manhattan???
Todo filme romântico tem um quê de propaganda: tratam de vender o produto perfeito, ou seja, a felicidade final, e se possível eterna. Tanto que os filmes sempre funcionaram como arma perfeita para vender um estilo de vida: o american way of life, baseado em Hollywood ou o estilo glamoroso francês e seu eterno ar blasé na segunda potência cinematográfica (não de número de produção, mas de tamanho e divulgação global).
Ao juntar os dois estilos, Paris-Manhattan, cria um híbrido de duas culturas: o independente estranho oriundo de Woody Allen, com um toque romântico excessivo tão típico da capital francesa.
Alice (Alice Taglioni) é uma jovem farmacêutica que se encontra solteira e com medo de permanecer assim por muito tempo. Com um estilo seco e irônico, típico da pós-modernidade é fã de Woody Allen, ídolo de quem possui pôster no quarto e com quem passa seus momentos solitários dialogando.
Estes momentos entretanto começam a interferir em sua vida social, preterindo a suas poucas possibilidades de relacionar-se, reduzindo-as a pequenas festas em companhia de seus familiares, que tentam a toda custa conseguir-lhe marido.
Numa destas festas conhece Victor (Patrick Bruel), que, apesar de desconhecer, o diretor favorito apresenta um certo niilismo típico de Allen.
Uma comédia romântica com pequenas inserções existencialistas (típicas do criado de Manhattan), que se espelham no momento presente: um pessimismo autocrítico, mas momentâneo, dos que trocaram o happy end pelo happy hour.
Dessa forma não explora somente os momentos infelizes e fugazes do casal, mas sobretudo recai sobre as cismas de cada um, criando uma aura específica de cada personagem, núcleos que vão se complementando a medida em que o filme ganha em sarcasmo e ironia.
A rica composição das personagens varia de ambientes físicos (a farmácia colorida e quase uma vídeo locadora, ou do lado oposto, o quarto escuro e intimista de Alice) a sonoros (o jazz que pode ser tão elitista num piano-bar, ou uma música de supermercado) passando por paletas de cores e figurinos que combinam,m com cada humor e cena que serão preparados com ligeireza num roteiro conciso, e bem amarrado.
O diálogo com o ídolo lembra um pouco A Rosa Púrpura do Cairo (1985), mas a transposição não se dá a nível filme-realidade, mas sim no fetiche imagem-frases de efeito, incorporando assim ainda mais a estética-fetiche publicitária.
O filme de estreia da diretora Sophie Lellouche mostra claramente suas origens e preferências fílmicas, trazendo ainda a bênção de um grande padrinho.
Serviço
Paris-Manhattan (Paris-Manhattan, França, 2012, 77 minutos, 12 anos)
Cine Jardins - Shopping Jardins: Sala 2. 21h10. Sábado não haverá sessão.
Veja mais notícias sobre Cultura.
Comentários: