Segunda, 29 Abril 2024

Análise: ???Reality???

Análise: ???Reality???
A sociedade de controle, com suas incontáveis câmeras reality shows, penetra e olha pra todos lados. O mesmo vidro da televisão ou do computador: janelas interdependentes que servem para separar. 
 
Vizinhos, mundos, aparatos, tudo refletindo uma virtualização vazia, ou, na melhor das hipóteses, nós mesmos, nossa imagem nessas telas apagadas. Não é casualidade que um dos principais programas informáticos atuais se chame Windows.
 
Uma câmera segue lentamente um cortejo exótico pela cidade: uma carruagem se interpõe em meio a carros e transportes contemporâneos, o glamour da comitiva se estende pelo cenário. Uma festa de casamento em que Luciano olha perplexo todo acontecimento; passivo, tenta se incorporar à ação, mas logo é bloqueado pela suposta realidade.
 
Luciano (Aniello Arena) vive numa Itália rodeada de crise, possui um negócio na peixaria, mas necessita realizar alguns trambiques para sustentar a família que vive num cortiço no centro de Roma. Ele que nasceu pra brilhar, depara-se com uma oportunidade: uma convocatória do Big Brother, que além de visibilidade, premia o ganhador.
 
A realidade é dividida em duas, a cotidiana, e a ilusão especular, em que, já não sabendo qual é a correta, corre-se o risco de viver na fantasia. O protagonista passa a identificar-se com o programa e aos poucos este entra em sua vida (e não ao contrário); já não consegue discernir onde há câmeras ou se todos são realmente atores nesta novela global.  
 


O êxito rotundo dos programas reality shows já se espalhou por várias especialidades, agora além do cidadão comum, existem os programas de culinária, maquiagem, liderança, etc. Todos focando um extenso registro de todas ações dos envolvidos na frente das telas. 
 
Isso rompe a barreira do público/privado criando uma sociedade onde é visível qualquer ato antes reservado (sexo, dormir, ir ao banheiro, etc). Tudo passa a ser divulgado em redes sociais ou em páginas de internet. E viva a democratização dos meios!
 
O filme parte da linguagem contínua dos planos de modo a não perder nenhuma informação, o corte e a montagem supõe a manipulação de tal realidade. Temos assim planos longos, mas carregados de simbolismos e de sensibilidade que causa pena o sofrimento e a expectativa do outro.
 
A analogia com a religiosidade italiana é perfeita, de um lado a câmera que tudo vê substitui o Deus onipresente que dita os valores do homem pré-moderno. Dessa forma o protagonista se vê forçado a desenvolver uma caridade até então inexistente para obter um pedacinho do novo céu: a vida midiática
 
Serviço
Reality - A Grande Ilusão (Reality, Itália/França, 2012, 116 minutos, 16 anos) 
 
Cine Jardins - Shopping Jardins: Sala 2. 21h20.

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