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Artistas cobram nomeação para Secretaria de Cultura em São Mateus

Pasta segue sob comando interino do secretário de Turismo, Rafael Cruz Tartalia

Desde o início do mandato de Marcus da Cozivip (Podemos) na atual gestão da Prefeitura de São Mateus, no norte do Estado, a pasta da Cultura segue sem um titular nomeado. A responsabilidade pelo setor está, desde então, sob responsabilidade interina do secretário de Turismo, Rafael Cruz Tartalia, o que tem gerado insatisfação entre artistas, conselheiros e agentes culturais do município.

PMSM

Para eles, a ausência de um secretário específico para a pasta tem sido um entrave que compromete o desenvolvimento de políticas públicas, o diálogo com a classe artística e até mesmo a capacidade de captação de recursos para o município.

Thiago Gomes de Melo, artista e um dos coordenadores do Ponto de Memória Museu Nativa Ilha, localizado em Guriri, ressalta que a ausência de uma gestão própria para a Cultura “impacta negativamente o cenário cultural local, pois tira a representatividade e voz do setor com o poder público”. Ele avalia que, dessa forma, perdem toda a classe artística e o município: “Mesmo sendo a oitava cidade mais antiga do Brasil, a prefeitura está tratando de forma precária nossa cultura e história”, critica.

Na análise do secretário do Conselho Municipal de Cultura e representante das artes cênicas, Oscar Ferreira, a gestão tem invertido a lógica da relação entre cultura e turismo. “O prefeito quer desenvolver o turismo, mas precisa da cultural, e não tem a percepção de que é a cadeia produtiva da cultura que cria identidade no local e vai gerar o desenvolvimento da atividade turística”, destaca.

Oscar Ferreira em cena com o monólogo performático Palhaço Travestido de Molambo. Foto: Acervo Pessoal

O fato de a Cultura estar subordinada ao Turismo compromete as políticas públicas do setor, observa o conselheiro. Ele também critica a ausência de diálogo entre a gestão e o colegiado, a falta de escuta ativa e a centralização de decisões. “Isso prejudica, porque precisamos que essas instâncias aconteçam de forma plena e que o gestor público pare de tratar os artistas como indesejáveis. É preciso enxergar os artistas como parceiros”, defende.

Além da falta de interlocução, Oscar observa que a falta de planejamento impacta na promoção de eventos e na valorização das diversas linguagens artísticas. “Estão criando calendários de eventos sem escutar o Conselho, com isso o coletivo não é beneficiado, apenas uma parte que a gestão escolhe. A grande maioria dos fazedores de cultura ficam sem visibilidade”, aponta.

Reconhecida por sua riqueza cultural, a cidade também sofre com a descontinuidade de eventos importantes, como o Festival Nacional de Teatro de São Mateus, que teve sua última edição em 2012. “O festival de Guaçuí, que começou depois, já está na 25ª edição. Aqui era o berço da cultura e ficou para trás. Hoje temos o quinto empresário administrando a cidade e todos com pouca percepção de como a cultura pode construir benefícios humanos, sociais e comunitários”, aponta.

Outro ponto levantado é a oportunidade perdida na utilização de espaços públicos para fins culturais. Segundo o conselheiro, havia um projeto para transformar o antigo cadeião desativado da cidade em um centro cultural de múltiplas linguagens, mas não houve interesse da administração. “Até para abrir um box no mercado municipal é uma dificuldade”, critica. Para ele, a falta de um gestor dedicado à Cultura é mais do que uma falha administrativa: “É uma tecnocracia que impede o avanço. A arte valoriza as identidades, enriquece a alma, contribui para a cultura da paz. Mas é tratada como ameaça”, lamenta.

O conselheiro Isnaldo Pereira, titular da Câmara de Patrimônio e Memória do Conselho Municipal de Cultura, também aponta o desinteresse da gestão em nomear um secretário como um obstáculo grave. “Não foi tomada medida nenhuma para a possibilidade de escolha de secretário de Cultura. Seguimos com um interino. E mesmo que a cultura e o turismo caminhem lado a lado, não são a mesma coisa. Cada uma tem sua função”, enfatiza.

A ausência de um gestor de Cultura inviabiliza a articulação com políticas públicas nacionais, pontua: “Um dos maiores captadores de recursos hoje do governo federal é justamente a Secretaria Municipal de Cultura. E sem um gestor, ficamos sem essa capacidade. As leis de incentivo à cultura precisam de uma estrutura para serem acessadas”.

Os conselheiros e artistas defendem a criação de uma pasta autônoma para a Cultura, com um gestor com perfil técnico e que tenha diálogo com o setor. Sem isso, a cidade continuará perdendo em identidade, desenvolvimento e oportunidades, reiteram.

“Enquanto o gestor não tiver essa percepção, as cidades ficarão à mercê de uma tecnocracia que não entende a importância da cultura para a valorização social e política”, enfatiza Oscar Ferreira. Ele também menciona a concentração de investimento em apenas uma linguagem artística, a música, de apelo comercial. “Não sou contra a música, pelo contrário, mas também precisam oportunizar o folclore, a capoeira, o teatro, as artes plásticas, a literatura. Eventos específicos para cada categoria só atraem o visitante, não afastam. Mas falta essa percepção. Estamos vendo uma involução na compreensão do papel da arte no desenvolvimento humano”, completa.

Século Diário procurou a Prefeitura de São Mateus para comentar as críticas e explicar se há previsão para a nomeação de um secretário de Cultura, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.

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