Sábado, 27 Abril 2024

Artistas são agredidos por policiais militares em evento em Anchieta

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Colocado como primeiro evento de Hip Hop no município de Anchieta, no litoral sul do Espírito Santo, o Parada Underground teve sua execução afetada por uma ação truculenta da Polícia Militar. Artista participantes foram atingidos por balas de borracha no último sábado (21). O evento aconteceu no mesmo mês em que foi sancionada lei que considera o Hip Hop como patrimônio cultural do Estado, reforçando o combate à discriminação em relação às prática e praticantes das artes ligadas ao movimento.

O ocorrido foi durante a manhã do evento, que durou manhã, tarde e noite na Vila Olímpica, um espaço público e aberto no Centro do município, onde foi instalado um palco e outras estruturas. Um grupo formado por DJs, Bboys e outros artistas que chegaram no início da manhã vindos de outros municípios para participar das atividades se abrigou na única parte coberta da praça, em frente à guarita da Polícia Militar, onde não havia viaturas estacionadas. Ligaram então um som e começaram a ensaiar passos de dança.

"Eles chegaram já com arma em punho. Eu falei: vou lá conversar com eles, pedir para baixar o som. No que eu levantei a mão e falei que o evento é autorizado, eles já atiraram para o alto, não queriam conversa", diz um dos artistas presentes no local. "Pedi calma. O cara deu dois tiros [de bala de borracha] em mim e falou: 'sai, sai, sai'. A galera se assustou, uma menina tomou spray de pimenta na cara", relatou.

"Ali é base da comunitária da polícia, é uma terreno da prefeitura, não é área militar. Ali é uma polícia comunitária, ela tem que estar junto com a comunidade. Tudo tem que ser feito no diálogo, não com uma política agressiva", reclamou o agredido. 

O evento possuía autorização da prefeitura e a Polícia Militar havia sido avisada antecipadamente sobre o mesmo, embora os policiais alegaram que não foram informados sobre o fato.

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O grupo ainda teve uma caixa de som apreendida pela polícia, que só poderá ser retirada na tarde desta segunda-feira (23). Posteriormente, a própria polícia reconheceu o erro e pediu desculpas para o grupo, embora um dos presentes relate que no Boletim de Ocorrência há uma "aliviada" e registrou " coisas que nem aconteceram". "Eles não tem nada contra nós todos os crimes foram cometidos por parte dos policiais", reclama o artista.

Ação prejudicou o evento mas não impediu continuidade

O rapper Pierrer, organizador do Parada Underground, que contou com apoio da Prefeitura Municipal de Anchieta e da Secretaria de Estado da Cultura, contou que a ação logo no início do evento prejudicou a organização do mesmo.

Ele relata que houve artista que presenciou o incidente e ficou abalado, pedindo para cancelar sua apresentação. Chegou a ouvir pedido de policiais para cancelar o evento, o que negou, pois já havia sido feito todo um investimento para que ocorresse, inclusive a mobilização de dinheiro e de pessoas que estavam ali para participar. "Afetou em tudo, as pessoas ficaram oprimidas, não se apresentaram com a mesma empolgação que teriam. Ainda atrasou a programação e shows que durariam de 30 a 40 minutos tivemos que pedir para reduzir a duas músicas para não passar do horário previsto", relata.

Mesmo assim, ocorreram apresentações de DJs, batalhas de MCs e B-boys, shows musicais, graffiti, realização de tatuagens e tranças afro e conversas sobre questões como consciência negra e diversidade sexual, entre outras atrações. "Foi um evento para levantar a cultura e o nome da cidade, unindo os quatro elementos do Hip Hop e outras atividades. Fizemos isso para valorizar especialmente a galera daqui, os artistas locais, que precisam ter seus espaços", explica o organizador do evento.

Lei proíbe discriminação

O artigo 5º da lei estadual 11.771, promulgada no dia 3 de janeiro de 2023, é enfático. "Fica proibido qualquer tipo de discriminação ou preconceito, seja de natureza social, racial, cultural ou administrativa contra a cultura Hip Hop ou contra seus integrantes". A lei e o movimento Hip Hop foram temas da Entrevista do Século, tendo como entrevistados a deputada estadual Iriny Lopes (PT), autora do projeto de lei, Fredone Fone, MC e grafiteiro e Pandora da Luz, produtora cultural e designer de moda.

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