Quarta, 24 Abril 2024

Confraria de Teatro apresenta performances 'Noli me Tangere'

Gleide-Firmino_1 Divulgação

"Noli me Tangere" significa "não me toques", frase pronunciada por Jesus a Maria Madalena quando ele ressuscitou e ela tentou tocá-la para acreditar que ele ainda existia. Nesse momento, porém, Jesus já era virtual e acreditar nele já não exigia sua presença material. Com a força dessa parábola, Noli me Tangere é o nome da performance que será apresentada pela Confraria de Teatro, interpretada por quatro atrizes por meio das telas dos computadores ou celular.

Thiara Pagani é de Vitória (ES), Micheli Santini e Gleide Firmino de Samambaia (DF), e Julia Pedreira de São Paulo (SP). Elas não se conhecem pessoalmente e o elo que as liga é João Turchi, diretor e dramaturgo que trabalhou com as quatro em diferentes momentos. As atrizes vão interpretar o mesmo texto em dias consecutivos.

A primeira temporada será nos dias 27, 28, 29 e 30, com apresentação de Julia, Gleide, Micheli e Thiara, respectivamente, sempre às 19h. A segunda temporada será de 11 a 14 de setembro. Todas performances serão realizada pela plataforma Zoom, com participação gratuita para o público, que deve se inscrever pelo e-mail .

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"A ideia das performances é ver o que acontece quando um mesmo programa performativo é entregue para diferentes atrizes, só que o limite que elas têm agora é o próprio computador e a funcionalidade da plataforma que lhes é oferecida para se apresentarem", explica João Turchi. A pergunta agora é o que o corpo pode fazer de modo bidimensional, mediado por uma tela. "Talvez algumas estratégias se pareçam mas são totalmente diferentes, porque cada performer resolveu lidar de um jeito diferente com o que lhe foi apresentado".

Cada atriz se valeu livremente de sua escola cênica performativa e também de sua forma de interação com o ambiente virtual: uma professora que hoje dá aulas de teatro pela internet, uma atriz que está trabalhando e estudando a questão da voz e sua reprodução, uma performer acostumada com o espaço da rua e com maior dificuldade para estar parada frente ao computador, buscando utilizar suas características, potências e dificuldades em função do desafio performático. Os cenários são suas próprias casas e os elementos cênicos trazidos a partir de suas pesquisas pessoais, desde fotos antigas, rascunhos de texto, gráficos, mapas virtuais e outros.

"A pandemia nos trouxe uma nova forma de pensar e se relacionar com o espaço. O debate se mantém, mas atravessado por outros, como a realidade das lives, da bidimensionalidade, da pandemia", diz Thiara Pagani, que recorda de um poema de Carlos Drummond de Andrade, que diz: "Como é o lugar quando ninguém passa por ele? Existem as coisas sem ser vistas?". Ela completa com outra pergunta: "como vivenciar os lugares por meio de imagens?"

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A conjuntura do coronavírus e das medidas de isolamento na verdade transformou toda a proposta do espetáculo, que foi aprovado em edital e recebeu apoio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), mas precisou ser reformulado para se adaptar à nova realidade dos tempos pandêmicos. O projeto original incluía justamente realizar os programas de performance pela cidade, no espaço público. "Foi completamente repensado para que pudesse dialogar com o momento em que estamos vivendo, em que ocupar o espaço significa se expor e expor outras pessoas ao vírus. Buscamos incluir essa realidade no trabalho. Não tem como ignorar que diariamente centenas de pessoas estão morrendo de Covid-19", aponta a atriz.

A Confraria de Teatro é um grupo de mulheres que desde 2012 pesquisa novos espaços de encenação. A estreia foi em 2014, com Mesas falam e se movem, na qual o espectador era levado a literalmente sentar-se à mesa onde o espetáculo seria encenado e contracenar com ele. Em 2016, o grupo estreou Todas as ruas têm nome de homem, uma arrebatadora obra sobre violência contra a mulher realizada de forma itinerante inicialmente pelas ruas do Centro de Vitória e, depois, em outras cidades.

Além de Noli me Tangere, a Confraria de Teatro prepara sua próxima peça chamada Inundação, escrita por Bruna Menezes e dirigida por Eliana Monteiro, que deve estrear após o fim da pandemia. Antes disso, Luciene Camargo, uma das integrantes do grupo, realiza em setembro Tem sempre uma noiva sorrindo, um experimento cênico em plataforma digital produzido a partir de uma cena da peça Todas as ruas têm nome de homem.

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